Soberano, o eleitor decidiu: as eleições para os palácios do Planalto e Piratini só terão desfecho no dia 30 de outubro. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) passaram ao segundo turno na disputa para a Presidência da República. Onyx Lorenzoni (PL), com expressiva votação, e Eduardo Leite (PSDB) vão concorrer pela preferência dos gaúchos.
Tanto o resultado nacional quanto o do Estado atestam a polarização
Tanto o resultado nacional quanto o do Estado atestam uma polarização em torno de Lula e Bolsonaro ainda mais profunda em relação à demonstrada pelas pesquisas de intenção de voto. Mostra-se inequívoca a força eleitoral que emana do atual presidente da República. Isso se prova pela sua própria votação, no país e no Rio Grande do Sul, e pelo desempenho dos aliados, como demonstram a vitória de Hamilton Mourão (Republicanos) para o Senado no Estado e a primeira posição de Onyx na corrida pelo Piratini, contrariando as projeções dos institutos. Leite, mesmo com uma gestão bem avaliada, obteve a vaga por margem estreitíssima em relação a Edegar Pretto (PT), que teve um desempenho significativo e quase desbancou o tucano. Sinal, da mesma forma, do potencial de transferência de votos de Lula, vitorioso no primeiro turno.
Pela frente, agora, haverá quase mais um mês de campanha. Será a oportunidade para as candidaturas aprofundarem suas propostas e seus compromissos e angariarem novos apoios. Com apenas dois concorrentes em cada certame, sem as múltiplas opções da primeira fase do pleito, é possível que os cidadãos aptos a votar possam sopesar melhor trajetórias e planos de governo para definitivamente decidir quem conduzirá os destinos do Brasil e do Rio Grande do Sul pelo próximo quadriênio. No primeiro turno, quando um número maior de postulantes compete pelo interesse do eleitor, a atenção fica mais dispersa. A partir desta nova etapa da eleição, os próprios candidatos têm à disposição a chance de detalhar com clareza à população suas ideias e programas que pretendem implementar no país e no Estado.
Restou claro do primeiro turno que os termos da disputa, especialmente pela Presidência, ficaram muito aquém do desejado e do que merece o eleitor. Grande parte dos esforços, nos debates e no horário eleitoral, foi dedicada a ataques aos adversários. A apresentação de propostas para solucionar os problemas que afligem a população foi relegada a um segundo plano. Quando apareceu, foi de forma rasa ou genérica, sem se demonstrar como os objetivos seriam alcançados. Com espaços mais amplos para o debate, agora, as candidaturas devem ser cobradas para serem mais propositivas.
A eleição nacional, sem dúvida, é a que desperta as maiores paixões. Mas a despeito do calor do embate, Lula e Bolsonaro têm de ter a consciência de que a grande maioria da sociedade, afastada das franjas radicais, almeja a pacificação. Os dois líderes populares, portanto, precisam desde já começar a apontar a intenção de apaziguar a nação. Um país fraturado, como está o Brasil, enfrenta maiores dificuldades para avançar em reformas e na formação de entendimentos que possibilitem a superação de entraves graves que se refletem em áreas como educação, saúde, economia e ambiente.
No RS, como se esperava, a definição também ficou para 30 de outubro. Onyx, com uma votação substancial, e Leite, que superou Pretto por mínima margem, foram os escolhidos pelas urnas para o segundo turno e, a exemplo do caso nacional, terão a possibilidade de esmiuçar seus projetos para governar o Estado pelos próximos quatro anos. Assim como no quadro nacional, o eleitor aguarda que as candidaturas priorizem o choque de propostas para tentar convencer os gaúchos de que merecem estar à frente do Piratini. O RS, embora não viva mais uma situação financeira caótica, como há poucos anos, ainda está distante do equilíbrio orçamentário desejado. As soluções que o Estado espera agora devem ser construídas com alianças que visem benefício à sociedade.
É imperioso mencionar outros dois pontos. Em primeiro lugar, merece reconhecimento, outra vez, o trabalho exemplar da Justiça Eleitoral, que com as urnas eletrônicas assegurou uma apuração ágil e um processo de lisura irretocável. Deve ser celebrado ainda o comportamento dos brasileiros neste domingo de eleições. A população deu ontem uma demonstração de maturidade e espírito democrático. O temor de um significativo número de episódios de violência não se confirmou e, fora algumas intercorrências, como longas filas em algumas seções, a votação transcorreu normalmente. Que este espírito majoritário de respeito às divergências se repita no segundo turno e contagie os candidatos, seus correligionários e apoiadores mais fiéis. Se assim for, a vitória será do país.