Sem dúvida, é impactante observar que o PIB do segundo trimestre do Rio Grande do Sul caiu 3,2% em relação aos três meses imediatamente anteriores. Assim como impressiona o cálculo que mostra uma retração de 8,4% no primeiro semestre, em comparação com o mesmo período do ano passado. Mas os percentuais elevados, é preciso lembrar, não são de todo surpreendentes. Já se esperava uma redução significativa do indicador devido à severa estiagem que atingiu o Estado no verão e dizimou especialmente lavouras de soja e milho.
As fábricas seguem elevando a produção, mais serviços são prestados e mais mercadorias são vendidas no comércio
A agropecuária, é notório, tem grande peso na composição do PIB gaúcho, e anos com quebras elevadas costumam levar o índice para o terreno negativo. Foi assim, por exemplo, em 2005 e 2012, dois anos em que o Rio Grande do Sul passou por secas devastadoras. A série histórica do Departamento de Economia e Estatística (DEE), ligado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do Estado, mostra que, nesses dois exercícios, o PIB estadual recuou 2,7% e 2,1%, respectivamente, enquanto a atividade no país subiu 3,2% e 1,9%. Algo parecido provavelmente acontecerá em 2022. Em outros momentos, com colheitas fartas e preços altos, a agricultura fez o Rio Grande do Sul crescer a taxas superiores à média nacional ou então sofrer menos com períodos de crises macroeconômicas.
Problemas na produção agrícola afetam, sim, outros setores, especialmente nos municípios mais vinculados à renda do campo. Um grande montante em impostos também deixa de ser arrecadado. Obviamente o ideal seria ter sempre safras cheias. Mas deve-se notar que, apesar do desempenho ruim do setor rural da porteira para dentro neste ano, os outros ramos da economia reagem bem. A indústria gaúcha cresceu 3% no segundo trimestre, acima do resultado do país, de 2,2%. Com os serviços aconteceu o mesmo. A alta no Estado foi de 1,6%, enquanto a média nacional foi de 1,3% de abril a junho, ante o intervalo de janeiro a março. É possível concluir, portanto, que, apesar de o número final do PIB ter sido ruim, não há um grave problema na dinâmica econômica. As fábricas seguem elevando a produção, mais serviços são prestados e mais mercadorias são vendidas no comércio. É uma recuperação, grosso modo, em linha com o ritmo nacional, após o período mais difícil da pandemia, com as atividades voltando plenamente ao normal. O próprio resultado da Expointer, com um espantoso volume de negócios de R$ 7,1 bilhões, bem acima do esperado, mostra que há apetite por investimento no campo. Na área do emprego, são 82 mil postos com carteira criados de janeiro a julho, de acordo com o Caged. Até agosto, as exportações gaúchas chegam a US$ 14,3 bilhões. A despeito da estiagem, é um montante 5% acima do mesmo período de 2021.
Essas constatações, no entanto, não eliminam a necessidade de o Rio Grande do Sul trabalhar na prevenção dos impactos de novas estiagens. Pelo contrário. Com maior ou menor frequência e de diferentes intensidades, secas são relativamente comuns no Estado. Sabe-se que a melhor forma de minimizar danos é o armazenamento de água. Práticas conservacionistas que ajudam o solo a reter mais a umidade também são conhecidas e preconizadas. A irrigação, aliás, mais do que impedir perdas, eleva a produtividade. Ou seja, além de evitar quedas bruscas do PIB, é um impulsionador da economia. No início do ano, no auge da preocupação com o déficit hídrico, voltou-se a discutir os entraves que dificultam o avanço da área irrigada. É de se esperar que, nos próximos anos, respeitando-se aspectos ambientais, seja possível depender menos de verões com chuvas abundantes e bem distribuídas.