Os prejuízos à aprendizagem durante a pandemia, especialmente na rede pública, só começarão a ser de fato recuperados com a volta dos estudantes às classes. A despeito da aproximação do fim do ano letivo, é absolutamente necessário, sob essa perspectiva, fazer com que o retorno presencial passe a ser compulsório no Estado. Foi o que fez o Palácio Piratini, com o decreto que determinou a obrigação a partir de ontem.
A cautela e a presteza permitirão a recuperação dos prejuízos no ensino e possibilitarão que muitos pais possam voltar às suas rotinas profissionais com maior segurança e tranquilidade
A volta às salas de aula neste momento, aliás, talvez tenha uma relevância adicional, justamente pela aproximação do período de férias de verão. O regresso de muitas crianças e jovens que permaneciam afastados, especialmente nos casos em que há risco de o distanciamento se transformar em desmotivação e evasão, é a chance de retomar o vínculo com as escolas, transformando-se em fator de incentivo e de fortalecimento de laços que permitam maiores garantias de que estarão de volta no início do ano que vem.
O ambiente escolar e o contato com os professores permanecem insubstituíveis. São imprescindíveis não apenas para a qualidade do ensino e melhores condições de assimilação dos conteúdos pelos estudantes. Para as crianças, principalmente, acrescentam-se os benefícios da convivência e da socialização. No caso de alunos em situação de vulnerabilidade social, a atenção da rede de proteção que se forma é decisiva para assegurar necessidades básicas, como alimentação, ou mesmo para a detecção de situações que colocam os menores em risco.
Observam-se desde o início da pandemia, que levou ao fechamento das escolas, as diferenças das condições de aprendizagem entre as redes pública e privada. As possibilidades de acesso à tecnologia para os alunos das escolas geridas pelo Estado e pelos municípios é substancialmente inferior em relação às instituições privadas, também abarcadas pelo decreto do Piratini. Essa assimetria, prejudicial para a sociedade como um todo, apenas poderá ser combatida com o retorno presencial, embora o poder público não possa se eximir de dar melhores condições tanto de equipamentos quanto de sinal de internet às escolas que administra, pela necessidade de preparar os futuros cidadãos para um mercado de trabalho cada vez mais digital. Ao mesmo tempo, espera-se que tenha êxito a iniciativa do governo gaúcho de oferecer uma bolsa para estudantes do Ensino Médio de lares carentes, como forma de evitar a evasão escolar.
Como não poderia deixar de ser, pelos cuidados que ainda são inevitáveis, a obrigatoriedade de voltar às salas de aula, sob pena de os estudantes levarem falta, tem exceções. É o caso dos alunos que, por questões médicas, ainda devem ficar resguardados. Continuam nas escolas as orientações de uso de máscara, álcool em gel e distanciamento mínimo entre as classes. Onde existir limitação de espaço físico, será possível permanecer no modelo híbrido, com rodízio. O vírus da covid-19 ainda circula e, por isso, a prudência sanitária deve ser a guia das ações, enquanto se observam com rigor eventuais problemas ou fragilidades, para que possam ser sanadas. A cautela e a presteza permitirão a recuperação dos prejuízos no ensino e possibilitarão que muitos pais possam voltar às suas rotinas profissionais, das quais dependem o sustento das famílias, com maior segurança e tranquilidade.