São auspiciosos os números do PIB do Rio Grande do Sul no segundo trimestre, embora seja necessário sublinhar que o salto de 27,7% em relação ao mesmo período de 2020 se deve à base de comparação fraca e ao impacto da supersafra de soja, enquanto no ano passado as lavouras gaúchas foram atingidas por uma seca severa. O forte avanço puxado pela agropecuária, no entanto, tem a capacidade de alavancar o desempenho dos demais setores, ajudando os gaúchos a chegarem ao final de 2021 com uma recuperação da atividade muito mais robusta em relação à média nacional. É um empurrão mais do que oportuno, no momento em que os demais segmentos, como indústria, comércio e serviços ganham novo ritmo graças ao avanço da vacinação e à reabertura das atividades.
Cria-se, portanto, um círculo virtuoso, que estimula consumo e investimentos, além de auxiliar no saneamento das finanças públicas
Os dados do Departamento de Economia e Estatística (DEE), ligado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão, apontam que a agropecuária cresceu notáveis 103%. É um resultado, claro, muito ligado à questão climática e ao fato de os reflexos positivos da soja serem sentidos especialmente no segundo trimestre, quando ocorre grande parte da colheita. Mas é consequência também do incansável trabalho de produtores rurais de todo o Rio Grande do Sul, que a cada ciclo se esforçam e investem para incorporar mais tecnologia e obter melhores rendimentos. Essa performance, por feliz coincidência, pôde ser celebrada durante a Expointer, vitrine da pujança da agricultura e da pecuária locais e que neste sábado recebe a visita do presidente Jair Bolsonaro.
O desempenho do campo, sempre é bom ressaltar, tem no Estado uma capacidade maior de disseminar benefícios na comparação com a maioria das demais unidades da federação, pela grande capilaridade e quantidade de agricultores de todos os portes que se dedicam à labuta na terra. No acumulado do ano, o PIB gaúcho cresce 16,2%.
Safras cheias e com preços bons costumam ainda elevar as vendas do comércio, especialmente nas regiões mais voltadas ao agronegócio. Também impulsionam o setor de serviços e aumentam a demanda da indústria. Por característica histórica, o parque fabril do Rio Grande do Sul é bastante voltado para a agricultura e, por isso, colhe ainda mais frutos quando o setor primário tem um bom desempenho no país.
Os serviços, área mais afetada pelas restrições da pandemia, avançaram 9,3% no segundo trimestre, enquanto a indústria cresceu 21,2%. As fábricas ainda sofrem com a falta de insumos, reflexo da desorganização de cadeias globais de suprimentos, mas o essencial é que há procura por seus produtos, indicando a existência de potencial de crescimento ainda maior. Esta nova tração da economia se converte em ainda maior arrecadação para o Estado, melhorando a perspectiva de manutenção de salários do funcionalismo em dia e assegurando recursos para os serviços essenciais prestados à população. Cria-se, portanto, um círculo virtuoso, que estimula consumo e investimentos, além de auxiliar no saneamento das finanças públicas.
O segundo semestre de 2020 foi o que teve a maior quantidade de medidas de restrição à circulação e de interação social. Com isso, foi quando a economia mais sentiu os reflexos da emergência sanitária. Agora, com a cobertura vacinal da população avançando e novas flexibilizações possíveis, contando com a manutenção dos cuidados pessoais, é possível vislumbrar uma retomada mais consistente e homogênea da economia do Rio Grande do Sul, ajudando na criação de empregos e renda em um momento de inflação alta e desocupação ainda em níveis críticos.