Passadas as manifestações de 7 de Setembro, o Brasil acorda hoje com desemprego elevado, preços dos combustíveis nas nuvens, desconfiança dos investidores internacionais, mais de 580 mil mortos pela pandemia, milhões de sequelados, educação sem rumo e uma crise hídrica sem precedentes. Esses são apenas alguns dos reais desafios do país, que passaram ao largo da pauta exposta ontem em parques, praças, ruas e estradas pelos seguidores do presidente Jair Bolsonaro.
O momento delicado do país, castigado por anos sucessivos de crise econômica e política, pede racionalidade, bom senso e visão construtiva de longo prazo
Não se trata aqui de questionar o sagrado direito a manifestações. São salutares e devem ser defendidas, desde que balizadas pela lei, sem violência e sem excessos planejados para impor medo em parte da população ou a outros poderes da República. Questionar a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) ou de ministros, por exemplo, não é crime e nem postura antidemocrática. Mas, reitere-se, se exercida com absoluto respeito pela ordem institucional, e não com ameaças. Não foi, infelizmente, o que se viu nas faixas e nos discursos que ecoaram ontem em vários Estados da federação.
O momento delicado do país, castigado por anos sucessivos de crise econômica e política, pede racionalidade, bom senso e visão construtiva de longo prazo. Requer a busca de consensos mínimos que permitam viabilizar meios para superar a profusão de dificuldades enfrentadas pelo país e pela esmagadora maioria silenciosa de brasileiros. Grande parte dos mais de 200 milhões de concidadãos quer apenas paz para trabalhar ou perspectivas de encontrar ocupação. Anseia somente por voltar a ter dignidade, honrar compromissos e nutrir esperanças de progredir com o suor de seu trabalho, proporcionando bem-estar e perspectivas para as suas famílias. Alimentar tensões e conflitos por causas pessoais ou ideológicas, alheios aos dramas do dia a dia da população, apenas mina as expectativas de uma recuperação consistente da economia que beneficie toda a sociedade.
Dividir o Brasil só serve a projetos míopes que buscam unicamente concentração imediata de poder, sem qualquer planejamento lógico para devolver o país ao trilho do desenvolvimento. Hoje, dia 8 de setembro, os brasileiros que precisam de estabilidade para tocar a vida, que empreendem com coragem para crescer e gerar riqueza, que enfrentam as filas do SUS e o desemprego não despertaram mais independentes ou livres. Pelo contrário, seguem reféns da turbulência que sabota planos e sonhos. Esses são os verdadeiros anseios do povo por quem lideranças políticas, dos poderes e de entidades deveriam investir suas energias em busca de soluções, em vez de criar mais intranquilidade.