São reiterados os alertas para o Brasil, vindos de várias áreas e nações, sobre possíveis consequências negativas para o país caso não ocorra uma mudança substantiva na política ambiental. Governos, grandes empresas e investidores já chamaram a atenção para a necessidade de uma guinada especialmente nas questões de proteção da Amazônia, que comporta a maior floresta tropical do mundo e tem um fundamental papel para evitar mudanças climáticas ainda mais dramáticas em um futuro nem tão distante. Agora, são grandes supermercados e produtores de alimentos britânicos e da União Europeia que, em carta aberta a congressistas brasileiros, ameaçam um boicote aos produtos nacionais, retirando-os da cadeia de fornecimento.
A grande maioria dos produtores rurais brasileiros e das empresas do agronegócio é ciente da necessidade de preservação do ambiente
Da forma como o governo Jair Bolsonaro age, parece considerar que esses avisos não passam de blefes. Mas é extremamente perigoso pagar para ver e quem pode acabar arcando com o prejuízo caso as advertências se concretizem é o agronegócio, o setor mais competitivo do Brasil. Conquistar clientes é uma tarefa árdua e perdê-los torna o trabalho de recuperar mercados ainda mais custoso. Sabe-se que há grande clamor protecionista na agricultura e na pecuária de vários países, especialmente os mais desenvolvidos, e tudo de que o produtores brasileiros não precisam, neste momento, são omissões e ações equivocadas por parte do governo federal para justificar represálias.
O caso específico, agora, é sobre o projeto de lei 510/21, que tramita no Senado. Versa sobre a regularização de ocupação de terras públicas e é considerado um risco pelo incentivo à grilagem na Amazônia. Se assim for, é uma ameaça à floresta. Precisa, portanto, de ampla atenção do Congresso para corrigir eventuais erros e, se for o caso, sepultá-lo. Caso contrário, será mais um sinal ruim emitido pelo Brasil, piorando a imagem do país no mundo. Na cúpula do clima, o Palácio do Planalto assumiu o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030, mas esta intenção precisa ser provada na prática. E já. Sob pena de a reputação nacional se deteriorar ainda mais. Ano passado, é preciso lembrar, grandes fundos e empresas já ameaçaram retirar seus investimentos e negócios do país, caso não assistissem a uma mudança de postura. Infelizmente, é preciso admitir que nada mudou, como mostram os atos do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
A grande maioria dos produtores rurais brasileiros e das empresas do agronegócio é ciente da necessidade de preservação do ambiente. Afinal, áreas conservadas e sadias são sinônimo de atividade econômica sustentável e perene. Mas, hoje, correm o risco de sofrer com esses possíveis boicotes. A conservação da natureza, por outro lado, é cada vez mais levada em consideração pelos mercados e pelos consumidores na escolha de produtos e serviços. Sustentabilidade, portanto, passou a ser compreendida como um pilar do capitalismo. A biodiversidade brasileira tem grande potencial de ser uma alavanca para o desenvolvimento, ao contrário do extrativismo primitivo. O Brasil conta com pesquisadores qualificados, universidades reconhecidas, instituições renomadas com a Embrapa e empresas conscientes, que, juntos, são capazes de fazer o país acelerar nesta rota, necessária e oportuna, com benefícios para o Brasil e o mundo.