Ao mesmo tempo que é uma situação a acender um sinal de alerta, merece reconhecimento a investigação da Brigada Militar que, em uma apuração interna, indiciou 27 policiais militares de um batalhão de Alvorada, na Região Metropolitana. São acusados de crimes como extorsão, corrupção, peculato e, o que chama mais atenção, formação de milícia. Não se chega ao ponto de temer que aconteça no Estado algo parecido com o que ocorre no Rio de Janeiro, onde organizações criminosas formadas por agentes da segurança pública ou oriundos do aparato estatal rivalizam com o tráfico e dominam áreas nas quais perpetuam uma série de delitos e controlam a venda de produtos e serviços. Mas é preciso extrema atenção para detectar e matar no nascedouro qualquer tentativa minimamente semelhante.
É inequívoco que a ampla maioria dos componentes da BM honra a farda e serve exemplarmente aos cidadãos do Estado
Os detalhes da investigação da Corregedoria-Geral da BM, publicados em GZH pelo repórter Vitor Rosa, mostram ligações dos PMs como outros criminosos da região, extorsão de traficantes, apropriação de bens, drogas e dinheiro, tomados de suspeitos abordados, além de vinculação com o jogo do bicho. Foram identificados 42 delitos após um ano de investigação, que rendeu um inquérito com quase 3 mil páginas, o que indica um trabalho minucioso de apuração de responsabilidades. O caso passa agora para o Tribunal de Justiça Militar (TJM), onde serão julgadas as condutas, com a certeza de ampla garantia de defesa. De forma correta, a maior parte dos suspeitos está hoje afastada do policiamento, cumprindo funções administrativas. Mesmo que ainda seja preciso esperar o desfecho das demais fases, o resultado até agora mostra que a Brigada Militar não hesita em cortar na própria carne, se necessário, para depurar a corporação e manter o justificado respeito que tem da sociedade gaúcha.
É inequívoco que a ampla maioria dos componentes da BM honra a farda e serve exemplarmente aos cidadãos do Estado. Na linha de frente, a instituição é peça-chave no combate à criminalidade e responsável direta pela redução das estatísticas de delitos verificada nos últimos anos. Ao longo da pandemia, também tem um trabalho elogiável. Todo esse prestígio precisa ser preservado e, para isso, é essencial inclusive manter a vigilância interna para apurar possíveis atos ilegais e incompatíveis com a história de quase 185 anos da Brigada Militar do Rio Grande do Sul.
Foi modelar, neste sentido, o posicionamento do coronel Vanius Santarosa, novo comandante-geral da BM. Em entrevista à repórter Jeniffer Gularte, Santarosa admitiu que há investigações semelhantes ocorrendo em outras regiões. Assim, indica que existem situações parecidas que exigem averiguação, mas ao mesmo tempo mostra que a instituição está atenta. Mas, essencialmente, mostrou-se peremptório ao assegurar que agentes com desvios de conduta comprovados não terão lugar na tropa.