O ataque cibernético que tirou do ar o sistema de informática do Tribunal de Justiça do Estado na quarta-feira é mais uma alerta sobre a relevância da segurança digital. É notório que esse tipo de atentado, ainda mais contra estruturas robustas e providas de mecanismos de proteção, requer conhecimento e recursos significativos. Por isso, é meritório e indispensável o esforço para chegar aos responsáveis, mesmo que, muitas vezes, esse caminho seja difícil.
É um ato que precisa de uma meticulosa investigação para desvendar as motivações e de uma resposta enérgica e rápida
Não são apenas as instituições que sofrem com invasões e golpes virtuais. O cidadão comum, ainda mais vulnerável, é alvo constante, tanto de arapucas ilegais quanto de ações camufladas, protagonizadas por grandes players mundiais da tecnologia, que se apropriam de informações disponibilizadas online pelos usuários para práticas invasivas e abusivas, um dos pilares do chamado "capitalismo de vigilância". Nesse sentido, a Lei Geral de Proteção de Dados, já em vigor no Brasil, é um avanço, embora ainda insuficiente para proteger os indivíduos e a sociedade. O megavazamento de informações de mais de 200 milhões de brasileiros que veio a público em janeiro e até agora está à espera de respostas por parte das autoridades é um exemplo dessa fragilidade e da complexidade para identificar os responsáveis e, em um segundo passo, puni-los.
Um dos grandes pensadores da atualidade, o israelense Yuval Harari, autor de Sapiens e de Homo Deus, alertou, recentemente, para os perigos de um atentado que provoque um apagão digital no planeta. Não é alarmismo. Historiador, filósofo e escritor, Harari compreende que, cada vez mais, a sociedade depende dos computadores e de seus sistemas, sejam eles simples programas que executam tarefas objetivas ou algoritmos sofisticados que se aproximam, cada vez mais, da capacidade decisória dos humanos. Hoje, hospitais, aviões, bancos, instituições de ensino e mesmo prédios residenciais estão conectados a sistemas de abrangência planetária e, por isso, com considerável grau de vulnerabilidade.
A tecnologia, desde que democratizada e utilizada em conformidade com os valores mais nobres e perenes da humanidade, é fator de desenvolvimento e bem-estar. É urgente, porém, garantir que essas ferramentas sejam absolutamente seguras, pelo risco dos efeitos potenciais de ataques como o praticado contra o Tribunal de Justiça do RS. Tirar a Justiça do ar, com implicações inclusive para a segurança pública, é um atentado contra a democracia e, por isso, precisa de uma meticulosa investigação para desvendar as motivações e de uma resposta enérgica e rápida das instituições para desencorajar novos atos do gênero.