A falta de doses para a segunda aplicação da vacina CoronaVac na maior parte dos municípios do Rio Grande do Sul e em outras unidades da federação aumenta a já demasiada variedade de incertezas que cerca o combate à pandemia da covid-19. É uma situação lamentável e que causa preocupação para centenas de milhares de gaúchos e autoridades da área da saúde, pelo fato de a imunização esperada não ficar completa. Mas infelizmente não é possível ser condescendente e afirmar que o atual contratempo é algo totalmente surpreendente. É apenas mais um episódio a demonstrar a incompetência do governo federal no gerenciamento da crise sanitária.
O caso, em primeiro lugar, reflete a falta de visão do Planalto na negociação para a compra de vacinas de mais laboratórios
O caso, em primeiro lugar, reflete a falta de visão – para ser benevolente – do Planalto na negociação para a compra de vacinas de mais laboratórios, recusando diversas ofertas ainda no ano passado, quando os países com melhor desempenho agora no processo de imunização já tinham seus contratos firmados. É resultado ainda da diretriz equivocada que partiu do Ministério da Saúde, em meados de março, quando a orientação a Estados e municípios foi de que não seria necessário reservar parte das remessas para a segunda dose. O resultado é uma grande aflição, visível nos últimos dias nas enormes filas em farmácias e postos de saúde, uma espera que, na maior parte dos casos, se mostrou em vão.
A principal causa para a escassez de vacinas, atualmente, é o atraso do envio de insumos pela China para o Instituto Butantan. Neste momento, seria esperado que o governo federal, após a troca de ministro das Relações Exteriores, buscasse melhorar o relacionamento com Pequim, após diversos ataques desferidos pela ala ideológica do governo. Foi péssima, neste sentido, a manifestação captada do ministro da Economia, Paulo Guedes, com informações equivocadas e distorcidas sobre a origem do novo coronavírus e eficácia de vacinas chinesas. Ao menos houve grandeza do ministro em tentar se desculpar. Nunca é demais lembrar que a CoronaVac responde por mais de 80% das doses aplicadas nos brasileiros até agora.
A revolta das pessoas que foram aos locais de vacinação e saíram sem a segunda dose é legítima, mas é injusto descarregar a inconformidade nos profissionais de saúde e voluntários que atendem a população, como se verificou em alguns casos. Eles também estão de mãos amarradas e frustrados diante da imprevidência e do descaso que se materializa na falta dos imunizantes.
Sabe-se que a CoronaVac precisa da segunda dose em torno de três semanas depois da primeira para que tenha seu efeito potencializado ao máximo. Especialistas, no entanto, ressaltam que, apesar do atraso maior, não há significativo prejuízo à imunidade. Segue sendo importante tomar a segunda aplicação. Assim, a população gaúcha precisará, infelizmente, de três doses. Duas de vacina e uma extra de paciência. Espera-se que seja possível, como projeta o Ministério da Saúde, contar com novas remessas a partir dos próximos dias.