É reprovável e preocupante a inviabilização do Censo Demográfico previsto para este ano pela falta de recursos. Realizado em regra a cada 10 anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o levantamento não saiu em 2020 devido à pandemia, mas acabou sepultado novamente devido ao corte de verbas no Orçamento de 2021. Dos R$ 2 bilhões inicialmente previstos para o trabalho, restaram R$ 57 milhões.
Deixar de realizar o Censo significa criar um apagão de dados que dificulta o planejamento do país para os próximos anos
A impossibilidade de realizar o Censo joga o país no escuro. Impede-se uma ampla e indispensável coleta de dados que possibilitaria traçar um raio X detalhado do Brasil e da realidade da população. A pesquisa é essencial para a calibragem de políticas públicas dos três entes federados. São dados que permitem conhecer as mudanças na demografia, como o ritmo do processo de envelhecimento, desigualdades regionais, informações sobre moradia, saneamento, renda, saúde e educação, entre tantos outros. Interromper o levantamento significa criar um apagão de dados que dificulta o planejamento do país para os próximos anos. Deixam de ser gerados e conhecidos elementos que seriam de grande importância para se ter uma melhor noção dos efeitos da pandemia e ações para superar as sequelas da crise sanitária e econômica.
As informações do Censo não são importantes apenas para os gestores públicos. Os dados, com grande nível de pormenorização, são largamente usados por empresas e empreendedores. Servem para nortear negócios e investimentos, por exemplo, de acordo com o perfil da população de determinada área, possibilitando mapear oportunidades e a demanda por produtos e serviços. Como o último Censo foi realizado em 2010 e o país experimentou significativas mudanças desde então, deixar de fazer o Censo com a regularidade prevista cria um vácuo estatístico que, ao fim, significa um retrocesso que seria inimaginável há poucos anos.
Lamenta-se que, entre as razões que levaram à inviabilização do trabalho, estejam as prioridades questionáveis estabelecidas pela negociação política entre governo e Congresso para o Orçamento 2021, com privilégios, por exemplo, a emendas parlamentares. São destinações com objetivo claramente eleitoreiro, enquanto os orçamentos da saúde e da educação, apenas para citar dois exemplos, tiveram cortes significativos. Com a impossibilidade
de realizar o levantamento neste ano, o mínimo que se espera é que o governo federal se comprometa para que a tarefa seja executada, inadiavelmente, em 2022, com o início da preparação, como a atualização do cadastro de endereços e a aquisição dos equipamentos necessários, o mais rápido possível. Não é aceitável que o Brasil se torne um desconhecido para os brasileiros.