Em todo o mundo há um enorme esforço para que as escolas fechem apenas em último caso. Não foi até agora o caso do Brasil, onde uma série de atividades conseguiu reabrir as portas em meio à pandemia, enquanto os colégios continuavam fechados. Na sexta-feira, o governo gaúcho decidiu permitir a retomada das aulas presenciais a partir de hoje na Educação Infantil e do 1º e 2º anos do Ensino Fundamental nos municípios que adotam a cogestão, mesmo que permaneçam sob bandeira preta, mas no domingo, uma nova decisão judicial reafirmou que a volta não pode ocorrer nas circunstâncias atuais. A batalha nos tribunais sobre o tema pode persistir, com nova reviravolta, ou então será preciso aguardar a melhora dos indicadores avaliados pelo modelo de distanciamento controlado do Piratini. Mas mais cedo ou mais tarde, o regresso ocorrerá, e o principal aspecto a ser observado é o cumprimento rígido dos protocolos sanitários para minimizar o risco de contágios.
Com a cobertura vacinal ainda baixa, qualquer flexibilização tem de ser criteriosa e cercada de cuidados
Mesmo que não obrigatória, a desejada volta às aulas presenciais deve estar apoiada em medidas responsáveis e ser considerada um teste, até que o quadro da covid-19 se amenize de forma sustentável. O mesmo vale para todas as atividades que necessitem da presença física de pessoas em ambientes de trabalho ou de ensino. Qualquer afrouxamento de restrições depende de um tripé a ser observado: regras claras, responsabilidade individual e fiscalização ativa do poder público para inibir inconformidades. No ensino, é preciso atenção especial à rede pública, com carências materiais maiores. Enquanto as instituições privadas mostram-se bem mais preparadas, o próprio governo do Estado admite que parte dos colégios sob sua gestão apresenta deficiências. É preciso saná-las o mais rápido possível, como promete o Piratini, assim como incluir professores e funcionários da área nos grupos prioritários para a imunização.
Os números atuais da covid-19 no Estado indicam redução das internações e de ocupação de UTIs. É uma boa notícia, mas não pode inspirar a falsa sensação de normalidade ou de que o pior já passou. Este sentimento, há poucos meses, mostrou ter sido um grave equívoco e levou a um relaxamento que ajudou a elevar rapidamente o número de casos, levando ao caos nos hospitais e à disparada na quantidade de mortes. Os indicadores, cedendo lentamente, mantêm-se em patamar elevado, e eventuais descuidos podem acarretar um novo e indesejável ciclo de aumento de pressão sobre o sistema de saúde. Com a vacinação letárgica, a palavra de ordem é sensatez – coletiva e pessoal. Uma medida relativamente simples mas efetiva seria o incentivo ao uso de máscaras mais eficientes, como as de padrão PFF2/ N95.
Assim como crianças têm o direito à educação, que em casos de famílias sem acesso à internet de qualidade só é possível no formato presencial, diversos outros setores da economia reabriram e outros tentam a mesma permissão. Este é um dilema para os gestores públicos, pressionados pelo lado da saúde e pela necessidade de volta ao trabalho para muitos segmentos e para a população. Com a cobertura vacinal ainda baixa, qualquer flexibilização tem de ser criteriosa, cercada de cuidados, adaptações e correções necessárias. E, principalmente, contar com o comprometimento dos envolvidos.