Sob grande pressão da comunidade internacional, o presidente Jair Bolsonaro participa hoje da Cúpula do Clima, convocada pelo seu par norte-americano, Joe Biden, evento que se realiza em formato online até amanhã. O que se deveria esperar do mandatário brasileiro é muito mais do que um discurso palatável para os líderes globais. Em um plano ideal, ao lado de uma retórica mais suave viria uma mudança concreta de postura nas ações de combate ao desmatamento, que apenas em março subiu 216% na Amazônia na comparação com o mesmo mês do ano passado, de acordo com o Instituto Imazon.
Proteção à biodiversidade e sustentabilidade são hoje temas centrais do capitalismo
Os fatos recentes, lamentavelmente, dão pouca esperança de que essa guinada seja possível. Às vésperas do encontro, o governo federal demitiu o chefe da Polícia Federal no Amazonas que fez a maior operação de apreensão de toras da história do país com indícios de serem fruto de desflorestamento ilegal, foi afastado o servidor do Ibama que fez um trabalho exemplar de fiscalização sobre exportação de madeira no Porto de Paranaguá (PR) e 400 servidores também do Ibama denunciaram estar com atividades prejudicadas pela mudança no rito de aplicação de multas, determinada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Uma mudança de rumos é pedida por investidores, empresários brasileiros e governadores, enquanto personalidades internacionais engrossam o coro de críticas e pedem a Biden que não feche qualquer acordo com o Brasil devido a dúvidas quanto à sinceridade de promessas de alteração de atitudes. Todos os sinais emitidos até hoje, é preciso admitir, dão razão para essas desconfianças.
Foi sobre o tema do ambiente a única menção de Biden, na campanha, ao Brasil. Na oportunidade, ameaçou com sanções se o país não alterasse suas políticas para a área. A proteção à natureza, sabe-se, é central na nova diplomacia da Casa Branca sob o democrata, preocupado com o avanço das emissões de gases de efeito estufa e a aceleração de mudanças climáticas. São inquietações que há muito deixaram de ser exclusivas de ecologistas. A questão é vista como um dos principais nortes do redesenho da economia dos EUA para o futuro. Como maior potência ambiental do planeta, o Brasil tem plenas condições de tirar grande proveito desta tendência global. Basta um mínimo de compreensão do governo federal.
Está chegando a hora da verdade para o Brasil enfim começar a desmanchar a péssima imagem internacional na questão relacionada ao ambiente – que não é gratuita. Proteção à biodiversidade e sustentabilidade são hoje temas centrais do capitalismo, também por serem uma preocupação de consumidores, mercados e investidores. Erra o governo Bolsonaro ao condicionar o aumento de metas de redução de emissões – que no Brasil são em grande parte relacionadas ao desmatamento – a ajuda financeira internacional. Conservar a Amazônia e os demais biomas é benéfico economicamente principalmente para os brasileiros. O avanço de criminosos ambientais sobre a floresta eleva o risco de uma mudança no regime de chuvas, algo que seria desastroso para o agronegócio nacional, o setor mais competitivo do país. Será uma lástima se o governo for capaz de compreender a necessidade de uma reviravolta apenas da pior forma possível, materializada em sanções contra o Brasil.