Vêm do campo as melhores perspectivas para a economia do Rio Grande do Sul em 2021, um ano ainda cercado de incertezas pelo recrudescimento da pandemia. Projeção da Emater indica que a colheita da soja nesta safra chegará a 20,2 milhões de toneladas, um recorde que, muito além de remunerar apenas os produtores, tem o potencial de alavancar o desempenho do PIB gaúcho. Plantada de Norte a Sul, a cultura é a principal lavoura do Estado e primeira fonte de renda de milhares de agricultores em centenas de municípios. Há ainda agora uma feliz combinação de elevada produtividade e preços altos, puxados pelo apetite chinês.
Safra recorde de soja tem tudo para fazer o RS ser um dos Estados com melhor desempenho econômico em 2021
A conjugação de bom rendimento e cotações em alta espalha benefícios pelos demais setores da economia. Vai gerar uma grande demanda por transporte, por exemplo. O dinheiro da venda da produção, por outro lado, movimenta elos do comércio, serviços e fábricas no Rio Grande do Sul, especialmente nas regiões produtoras. Ganham cooperativas, usinas de biodiesel, outras esmagadoras do grão, fabricantes de alimentos à base de soja e exportadores – que por sua vez também animam as cadeias onde estão inseridos, gerando empregos inclusive nos centros urbanos. Fruto também da dedicação de sol a sol dos produtores, a colheita farta resulta ainda em mais investimentos em tecnologia, como máquinas agrícolas e silos, setores em que o Rio Grande do Sul tem liderança nacional. É um ciclo virtuoso que outra vez se realimenta, renovando a ciranda da prosperidade interrompida no ano passado, quando a falta de chuva levou a uma pesada quebra de produção. Estima-se agora que o valor bruto da produção da soja, levando-se em consideração as cotações atuais, alcance cerca de R$ 50 bilhões.
As boas notícias para quem trabalha na terra – e para a economia gaúcha – também brotam da lavoura do arroz. Depois de vários anos com preços abaixo dos custos de produção, os orizicultores entram na segunda safra consecutiva com valorização do grão, uma chance para sair do aperto financeiro e do alto endividamento do setor. A pecuária de corte, da mesma forma, experimenta bons preços, estendendo o ano positivo para mais uma atividade no campo.
A nota destoante veio da produção de milho. Enquanto a soja foi beneficiada pela chuva generosa em janeiro, o cereal foi prejudicado pela falta de umidade em dezembro. A produção de 4,2 milhões de toneladas ficou bem abaixo das quase 6 milhões de toneladas estimadas inicialmente. É uma cultura mais sensível a estiagens e estratégica para as cadeias de aves e suínos por ser o principal insumo das rações. A nova frustração reforça a necessidade de maior investimento em irrigação, a despeito do significativo avanço observado desde a grande seca de 2012. Apesar deste desapontamento pontual, em regra a agropecuária tende a ter um ano positivo no Estado. É um setor que tem um peso maior na economia em relação à média nacional e seus reflexos também são mais sentidos em outros setores. Se no ano passado a quebra na safra de verão puxou o PIB gaúcho para trás, agora há tudo para fazer o Rio Grande do Sul ser um dos Estados com melhor desempenho econômico em 2021.