Fiel a suas tradições nas horas mais difíceis, o Rio Grande do Sul conta nesta crise com um atributo crucial para enfrentar e derrotar o vírus. Diferentemente do presidente da República e de seus seguidores radicalizados, os líderes de todos os poderes, das principais prefeituras e de organismos públicos com papéis decisivos neste momento são homens e mulheres cujo traço comum é a sensatez e o senso de responsabilidade histórico. Na Praça da Matriz, em Porto Alegre, e nos paços municipais das maiores cidades, mas também no Ministério Público, nas Forças Armadas e em incontáveis órgãos de Estado, reina um alinhamento de visões e a conjugação de esforços derivada da busca pelo bem comum.
Em incontáveis órgãos de Estado, reina um alinhamento de visões e a conjugação de esforços derivada da busca pelo bem comum
A comunhão de pensamento não significa convergência sobre tudo a todo momento. Saudáveis discordâncias colocam teses e conceitos à exposição e em teste, a fim de se prevenirem inevitáveis equívocos ao se percorrerem territórios inexplorados. Mas poucas vezes se viu em um Rio Grande do Sul constantemente dilacerado por rixas ideológicas e partidárias uma afinidade tamanha entre entes públicos.
O desprendimento financeiro é um símbolo desse sentimento. Com o contingenciamento dos orçamentos, a Assembleia, o Poder Judiciário, o Ministério Público (MP), a Defensoria Pública e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) vão repassar em torno de R$ 150 milhões às ações de combate à pandemia do novo coronavírus no Rio Grande do Sul. As bancadas gaúchas na Câmara e no Senado também confirmaram, no início da semana, a destinação de R$ 174 milhões para enfrentamento da covid-19 no Estado, valor referente a emendas dos parlamentares. Acima dos montantes, porém, impera um sentimento hegemônico, que vai das cúpulas aos indivíduos da base de todas as esferas públicas, de que o serviço público como um todo recebeu um chamado e está cumprindo sua missão.
Reconhece-se que não é simples para ninguém com poder de mando, sobretudo para políticos que dependem do voto popular, rejeitar apelos simplistas e imediatistas, por mais justificados que sejam, para apertar ou relaxar diretrizes, ainda que sem amparo científico e perspectivas de longo prazo. Mas essa é a característica que distingue os políticos provisórios daqueles que fazem e entram para a história de suas comunidades. Tais líderes dizem a verdade, por mais dura que seja, inspiram os cidadãos a enfrentar e superar a crise e assumem os riscos inerentes à função, sempre com a intenção de proporcionar a melhor solução para seus concidadãos.
O populismo fácil e irresponsável produziria ainda mais mortes em tempos de pandemia, mas felizmente, ainda que haja vacilos aqui e ali, a sensatez dos principais entes públicos tem sido a marca dominante no Rio Grande do Sul – e assim deve continuar sendo. A História vai julgar as decisões que serão tomadas agora. E, infelizmente, pela velocidade de disseminação do vírus pelo mundo, esse momento chegará mais cedo do que se imagina.