Por Alfredo Fedrizzi, conselheiro, consultor e jornalista
As máquinas sempre estiveram presentes na vida dos homens, tornando as tarefas menos árduas, deixando para o homem atividades mais nobres. Do arado aos computadores, celulares e robôs. Mas tudo foi ficando tão acelerado que, ao contrário do que era imaginado, as pessoas estão trabalhando cada vez mais.
Crises constantes, maior competição, busca por maior produtividade, redução de equipes, mais pressão por resultados, prazos cada vez menores. Isso tem levado muita gente a sofrer o burnout, verdadeiros apagões mentais. Em tradução livre, “queimar até o fim”. Quando isto acontece as pessoas começam a fazer coisas sem nexo, tomam atitudes esquisitas, impensadas ou agressivas. É como se o corpo e a mente dissessem: “Chega, não dá mais!”
O que era um fenômeno do mundo do trabalho, passou a ser uma doença. E cresceu tanto no mundo que já se fala em epidemia. O Japão é o líder, com 70% da população economicamente ativa sofrendo de burnout. Em 2016, quase um quarto das empresas japonesas exigia que os funcionários cumprissem mais de 80 horas extras por mês. Em segundo lugar vem o Brasil com 30%, seguido pela China com 24%, e os EUA com 20%. Na China, é comum os funcionários trabalharem das 9h às 21h durante seis dias por semana. As causas do burnout são pessoais e pelas condições de trabalho das empresas.
Estamos correndo tanto pra quê? Para vivermos numa sociedade doente? Para abreviarmos nossas vidas?
Pessoas depressivas, perfeccionistas, que se cobram demais, os workaholics, que se dedicam excessivamente ao trabalho e pouco ao descanso têm mais propensão ao burnout. Os fatores que mais contribuem para essa doença estão ligados a burocracia, excesso de horas no trabalho, uso constante do computador, falta de respeito por chefes e colegas, compensação ($) insuficiente e a falta de autonomia. Em três palavras: exaustão, ineficiência e cinismo. O aumento alarmante de casos de burnout é um sintoma de ambientes inadequados para o desenvolvimento saudável do ser humano. Quando os valores pessoais e os da empresa são incompatíveis, algumas pessoas passam a ter um sofrimento interno que pode se transformar nessa doença.
Para que as pessoas não adoeçam por esgotamento profissional, algumas organizações têm usado o mindfulness, meditação, workshops de inteligência emocional. A Microsoft, por exemplo, começou a experimentar modelos como o fim de semana de três dias. A produtividade aumentou 40%. É preciso reinventar as empresas, torná-las mais humanas e respeitar as individualidades, usando as máquinas para facilitar a vida das pessoas e não para eliminar o ser humano. Buscar o equilíbrio entre os tempos dedicados a trabalho, afetos, cuidados pessoais e à sociedade, nos reconectando à natureza, tocando a vida sem tanta pressa. Estamos correndo tanto pra quê? Para vivermos numa sociedade doente? Para abreviarmos nossas vidas?