Por Alfredo Fedrizzi, conselheiro, consultor e jornalista
Há poucos dias o Papa Francisco trouxe ao debate um dos grandes temas que precisam ser enfrentados: o descarte humano. Cada vez mais profissões e habilidades deixam de ter utilidade e passam a valer nada, levando milhares de pessoas ao desespero por não terem mais trabalho e passarem a ser “descartáveis”. Com a velocidade e a abrangência cada vez maior da tecnologia, isso tende a aumentar e a virar tema de saúde pública global.
O Papa falou em um TED (organização de “ideias que merecem ser compartilhadas”). Antes, se reuniu com executivos das maiores empresas do Vale do Silício e pediu que “tenham cuidado com os avanços tecnológicos – como a inteligência artificial – para que a humanidade não se torne vítima de uma “barbárie”, na qual a lei do mais forte prevaleça sobre o bem comum”.
O Papa lembrou que, até pouco tempo, tínhamos a escravidão. Depois, eram as indústrias, que geravam a maior parte da riqueza, mas empregavam muita gente. “Hoje os donos das grandes fortunas não precisam de gente, mas de capital financeiro e informação”, tornando as pessoas irrelevantes, totalmente descartáveis.
Como fazer para que os bens que a sociedade produz sejam usufruídos pela própria sociedade e não só pelo dono da tecnologia? Tudo que a humanidade construir só tem um sentido: a própria humanidade.
Não se trata de ser ludista, se colocando contra o avanço da tecnologia, pois não seria inteligente. Ela vai continuar seu avanço, trazendo inúmeros benefícios a muita gente. Mas precisamos nos perguntar: para quem vão esses benefícios? Como melhorar a vida de todos com a hipertecnologia? Qual o sentido de ganhos de produtividade sem que esta possa estar disponível a todo mundo? Como serão solucionados os conflitos da sociedade quando algoritmos resolverão quase tudo? Quem gerencia o sistema de algoritmos? Como fazer com que a comida, por exemplo – que existe em grande quantidade no mundo e poderia acabar com a fome –, não seja tratada somente como commodity?
A desigualdade e a falta de futuro para muita gente são os pontos centrais a serem equacionados. Programas de renda mínima estão sendo testados em alguns países. Mas a questão central é: como ensinar pessoas a agregar novos conhecimentos aos que já aprenderam no passado, desenvolvendo novas habilidades, valorizadas nos dias de hoje? Sempre devemos lembrar que a principal habilidade, que está em falta, é a empatia. Devemos trabalhar para que todos vivam com um mínimo de dignidade, pelo menos. A pessoa deve ser o motivo, centro e finalidade de toda tecnologia!