Por Alfredo Fedrizzi, conselheiro, consultor e jornalista
Vivo hoje novos e desafiadores momentos – o luto pela perda da minha companheira e a criação da nossa filha de dois anos. Amor, dedicação, resiliência e uma inquietação: como nós, pessoas, empresas e sociedade nos sensibilizamos com a condição humana? Falamos tanto em inovação, mas olhamos para nossas necessidades? Como atravessamos os momentos difíceis? De que forma o ambiente de trabalho acolhe a nossa dor?
Por mais que seja claro que educação vem da família, que nossos valores se formam na infância, pouco nos preocupamos em cuidar do espaço familiar. Como é para um trabalhador comum dedicar mais tempo para alguém da sua família em uma situação assim? O que nós podemos fazer para mudar este mundo tão pouco humanizado? É dentro de casa que se educa. É lá que se constrói a base afetiva dos humanos, que serão os futuros trabalhadores. Se esse trabalhador for mulher, vai ter problema até para ser contratada. “Vai engravidar, tirar licença-maternidade.” Tratar as mulheres como algo que atrapalha o desempenho da empresa é machismo e é ultrapassado. Como podemos desejar profissionais engajados, se não permitimos que estejam inteiros no seu melhor projeto de vida?
Se eu estivesse trabalhando em uma empresa tradicional, agora no papel de pai e mãe, talvez não tivesse os “benefícios” de que precisaria. Como se o tempo para estar com a família em momentos difíceis fosse um benefício! Mas é o mínimo e deveria ser normal, prioritário.
A rotina atribulada, com tarefas e metas a cumprir, tornou nossas vidas burocráticas e automatizadas. Em alguns países ou empresas que querem atrair e manter os melhores talentos, os benefícios vão muito além do que fazemos aqui. A Califórnia oferece mais meses de licença-maternidade do que outros Estados americanos. As maiores empresas do Vale do Silício dão incentivos em uma espécie de competição pelo bem-estar. Oferecem vantagens como horário de trabalho flexível, serviços de saúde gratuitos, aulas presenciais ou a distância, aconselhamento nutricional, sala de soneca, acupuntura, ioga, pilates, fisioterapia, academia, comidas saudáveis, home office, estímulo ao trabalho voluntário, subsídios para compra de alimentos, lavanderia, cantina aberta 24h. Aqui entre nós, a marca de roupas Reserva dá, entre outros benefícios, seis meses de licença para quem tem filho. Precisamos construir uma sociedade que atenda, prioritariamente, às necessidades humanas.