Ao dar curso às ofensas à honra da repórter Patrícia Campos Melo, do jornal Folha de S.Paulo (leia mais na página 7), o presidente Jair Bolsonaro mais uma vez ultrapassou os limites da civilidade, agrediu a liberdade de imprensa e ignorou a liturgia exigida para o cargo de chefe de nação. As insinuações misóginas do presidente servem para atiçar suas bases radicais nas redes, mas distanciam ainda mais a figura do presidente de uma esperada reconciliação entre os diferentes segmentos do eleitorado que emergiram das urnas de 2018.
Bolsonaro vai se alienando em bolsões de radicalização que só dificultam ainda mais o entendimento e a retomada do desenvolvimento
Com o deboche sobre a jornalista, Bolsonaro conseguiu provocar reações indignadas e desviar momentaneamente a atenção sobre as conexões de seu filho, Flávio Bolsonaro, com o líder miliciano Adriano Nóbrega, morto na semana passada na Bahia. Mas também demonstrou que têm razão os 20 governadores que assinaram uma inédita carta aberta pedindo respeito do presidente ao pacto federativo e criticando o pré-julgamento de Bolsonaro sobre a atuação das polícias no caso. O estilo grosseiro do presidente não constrói pontes para tirar o Brasil da crise. Ao contrário, Bolsonaro vai se alienando em bolsões de radicalização que só dificultam ainda mais o entendimento e a retomada do desenvolvimento.