Por Gustavo Paim, vice-prefeito de Porto Alegre
Porto Alegre é uma cidade de gente que cultua o debate. Seja no futebol, na política ou no dia a dia de suas escolhas. Esse é o nosso jeito de agir, de ver o mundo e de se posicionar.
Nas últimas eleições municipais, a chapa vencedora propôs mudanças para solucionar problemas urgentes e históricos. Foi o compromisso assumido e celebrado por 402.165 porto-alegrenses. Infelizmente, essa lógica se perdeu nas intenções. Um exemplo são os projetos sobre o transporte coletivo de Porto Alegre propostos pelo prefeito, que ferem o pacto firmado com a população e afrontam a nossa identidade histórica, construída na pluralidade.
Em apenas dois dias, Marchezan pretende mudar todo o sistema. Como embasar decisões complexas que envolvem milhares de pessoas da Capital, e até mesmo da Região Metropolitana, num período tão exíguo, empurrando a responsabilidade para o Legislativo?
Discutir alternativas para o transporte público é fundamental, mas não à base do afogadilho. E o mais grave: os textos oneram severamente os cidadãos. O pedágio urbano transforma Porto Alegre em uma ilha, cobrando acesso de quem precisa vir aqui trabalhar, estudar ou ter atendimento médico, por exemplo.
O cercamento eletrônico, antes uma bela ferramenta de combate ao crime, viraria um instrumento arrecadatório. É, também, antidesenvolvimentista, pois cria novos custos aos empreendedores e trabalhadores. Afugentará visitantes e investidores, tornando a Capital um ambiente hostil ao crescimento.
É preciso dar valor à palavra empenhada. É necessário honrar nossa história. Temos a obrigação de discutir novas ideias para o transporte público, buscando reduzir a tarifa e tornando o sistema mais atrativo à população. Mas temos de fazê-lo com um amplo debate, envolvendo o maior número de atores possíveis, para termos soluções definitivas – e não desculpas eleitoreiras. Ouça a cidade, prefeito.