Um ano depois da inexpressiva e frustrante passagem do então recém-eleito presidente Jair Bolsonaro, a comitiva brasileira chega a Davos, a mais vistosa vitrina da economia mundial, com a ambiciosa e legítima expectativa de atrair investimentos em massa para o Brasil. Liderada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a delegação brasileira já tem uma narrativa a apresentar em Davos. Nesses 12 meses, o Brasil começou a deixar para trás os anos de recessão, tornou-se a quarta nação que mais recebeu investimentos estrangeiros em 2019 e, melhor das notícias, é um dos poucos países para os quais o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para cima, no caso para 2,2%, a perspectiva de crescimento do PIB em 2020.
A maré positiva vem na esteira de uma série de pequenas e grandes evoluções no campo da economia. Mesmo aquém das expectativas, a aprovação da reforma da Previdência foi um divisor de águas para a confiança na capacidade de o Brasil reduzir seu déficit no futuro e, assim, impedir a implosão do edifício das contas públicas. O time de economistas e empresários liberais reunidos em torno de Guedes e dispostos a modernizar as premissas que travam o desenvolvimento do país também produziu um alentado menu de avanços, entre os quais a gradual desburocratização dos serviços públicos, a eliminação de normas e decretos ultrapassados ou exagerados e a liberalização de atividades profissionais e econômicas.
O recado que o Brasil pretende dar em Davos é claro: o país está aberto para negócios. No entanto, todas essas conquistas do time econômico correm o risco de serem ofuscadas por erros primários do presidente Jair Bolsonaro e de seu grupo mais ideológico e extremado. A miopia mais evidente ocorre no campo do meio ambiente. O presidente e boa parte do governo ainda não entenderam que o mundo mudou – assim como Davos mudou. Por pressão da opinião pública, fundos bilionários já descartam investimentos em fontes e indústrias poluidoras e torcem o nariz para países que não conferem prioridade real ao respeito ao ambiente.
O crescimento das queimadas na Amazônia e as declarações estapafúrdias sobre a responsabilidade por elas se somam à tentativa de abertura das reservas indígenas à exploração mineral para criar no Exterior um manto que encobre realizações positivas. Para dificultar as coisas, o atual comando do Itamaraty se alinha a visões conspiratórias e esquizofrênicas e se junta ao Ministério do Meio Ambiente nas teses negacionistas sobre o aquecimento global e seus impactos sobre o planeta.
Se o governo Bolsonaro pretende um lugar na primeira fila da economia mundial, deve ouvir a voz de Davos – e ela avisa que a economia mundial não se move mais a partir apenas da acumulação de riquezas a qualquer custo, mas sobretudo sobre de que forma ocorre o desenvolvimento e como o capitalismo moderno deve e pode transformar o mundo em um lugar melhor para se viver. Ouvir a voz de Davos 2020, e agir o quanto antes, é preparar o Brasil para o futuro.