Assim como é natural a chegada do verão, temporais com vento forte deveriam fazer parte da rotina de administração de crise das companhias de energia elétrica no Rio Grande do Sul e, em particular, em Porto Alegre, onde uma grande quantidade de árvores dá margem a constantes derrubadas de fiação sempre que ocorre ventania. No entanto, como se constata desde quarta-feira à tarde, parece que a CEEE foi surpreendida por mais uma tempestade de verão.
A solução, que deveria constar das metas de eventuais compradores da CEEE, é enterrar gradativamente a fiação elétrica, pelo menos nas áreas de maior densidade populacional
Cerca de 200 mil porto-alegrenses foram deixados horas a fio sem energia, com tudo o que isso significa em transtornos, desde a impossibilidade de se ligar um simples eletrodoméstico até situações de isolamento de idosos e pessoas com deficiência de locomoção em prédios sem geradores próprios. As perdas para os consumidores são incalculáveis, e incluem montanhas de alimentos deteriorados e milhares de horas de trabalho desperdiçadas.
Todos esses transtornos se multiplicam pela inépcia da CEEE em fornecer informações corretas ou minimamente confiáveis para seus usuários. O modelo recomendado pela CEEE para comunicar a falta de energia – um SMS para o número 27307 com a palavra “luz” e o número da unidade consumidora – é um abuso na paciência dos usuários. Muitos deles se viram iludidos com respostas automatizadas sobre a previsão de retorno de energia a suas casas. O próprio diretor de Distribuição da CEEE, Giovani Francisco da Silva, admitiu, em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, que o modelo é falho e que a previsão da volta da energia “deve ser desconsiderada”. Baseados nessa previsão inútil, muitos porto-alegrenses passaram uma madrugada maldormida ou em claro, à espera do retorno da eletricidade a suas residências.
Porto Alegre, ressalve-se, não viveu uma catástrofe em largas proporções na tarde de quarta-feira. O quanto a perspectiva de privatização da companhia agravou a resolução dos problemas é uma incógnita, mas é certo que a simples transferência da empresa para a iniciativa privada não resolverá em curto prazo todos os problemas de falta de luz na Região Metropolitana – as concessionárias privadas no Estado também não exibem performances de orgulhar os gaúchos. Mas um caminho e meio terá sido percorrido se em pouco tempo a comunicação melhorar dramaticamente, tanto nos sistemas de alerta quanto sobre o encaminhamento e resolução dos problemas.
No longo prazo, a solução, que deveria constar das metas de eventuais compradores da CEEE, é enterrar gradativamente a fiação elétrica, pelo menos nas áreas de maior densidade populacional. É assim que se faz nas cidades mais avançadas, em uma revolução urbana do ponto de vista estético e da qualidade no fornecimento de energia e outros serviços. Nessas cidades, ainda uma miragem para os porto-alegrenses, falta de luz é uma notícia distante, do Terceiro Mundo.