Depois de surpreender a plateia do Fórum Econômico Mundial em 2019, a adolescente sueca Greta Thunberg foi convidada a voltar a Davos, que recebe todo ano o encontro conhecido como "cúpula do capitalismo". Estarão lá, como há meio século – o evento completa 50 anos em 2020 – alguns dos maiores investidores do planeta. Depois do vexame do ano passado, quando usou cerca de um terço do tempo disponível que tinha para falar a essa plateia exclusiva, o presidente Jair Bolsonaro decidiu não ir. Mandou em seu lugar o ministro da Economia, Paulo Guedes, com três anúncios embaixo do braço.
Sobre o primeiro, os interlocutores estão bem informados: a aprovação da reforma da Previdência. Por mais que tenha provocado polêmicas no Brasil, a medida soará como música na cidadezinha suíça. Quanto às outras duas, ainda há dúvidas até aqui: são os pacotes de 79 projetos de concessão do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e a lista de estatais a serem privatizadas neste ano. Tudo certo, se a edição do Fórum fosse de 20 anos atrás. Falta, na bagagem do Brasil para o encontro de 2020, uma posição convincente sobre a questão ambiental.
No programa deste ano, o enunciado do WEF para a questão ambiental está mais para o tom de Greta do que para o linguajar dos negócios. Não menciona "produção sustentável". Em igualdade de importância com os demais, está o tema "como salvar o planeta". Em número de eventos, temas de proteção à natureza superam os de macroeconomia. Pela primeira vez em 10 anos, as consequências da mudança climática são as cinco maiores preocupações dos líderes em termos de probabilidade, conforme o relatório de riscos globais do Fórum feito anualmente por Marsh & McLennan e Zurich, ambas ligadas ao mercado de seguros (veja íntegra aqui, em inglês e confira a imagem abaixo).
Se no Brasil integrantes do governo ainda veem o cuidado com a natureza como parte do "marxismo cultural", o Fórum deixa claro: é um tema caro a todos os humanos, inclusive os que se inquietam com o resultado da última linha. Na semana passada, a maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock, que gerencia quase US$ 7 trilhões em ativos, uniu-se a um programa para reduzir emissões e aumentar a transparência em investimentos relacionados ao clima, como descreve em detalhes Alfredo Fedrizzi (neste link). Mais, está orientando seus clientes a não investirem e até mesmo tirarem seus dinheiros de negócios não sustentáveis.
Ao contrário de outros países, o Brasil não levará a Davos seu ministro do Meio Ambiente. Considerado o retrospecto, talvez seja melhor assim, mas todas as evidências estão dadas: o Brasil precisa refazer seu discurso e sua prática na área ambiental se quiser atrair investidores internacionais.