Após uma despudorada tentativa patrocinada por 13 partidos para turbinar o fundo eleitoral de 2020 com R$ 3,8 bilhões, teve bom senso o relator-geral do Orçamento do próximo ano, deputado Domingos Neto (PSD-CE), ao recuar da ideia e propor R$ 2 bilhões para financiar as campanhas para prefeito e vereador, mesmo valor sugerido pelo governo federal. O montante é R$ 300 milhões acima do distribuído no pleito de 2018 e mais do que suficiente para custear a busca de votos nos municípios, onde vale mais o olho no olho do que produções cinematográficas para os horários gratuitos de TV e rádio, que até começam a ter sua eficácia questionada diante de novas possibilidades de comunicação direta, como as redes sociais. Também não há, nas cidades, necessidade de dispendiosas viagens de jatinho ou helicóptero, e o que conta muito ainda é a proximidade dos postulantes aos cargos públicos com as necessidades da população.
Mais encabulados com a repercussão negativa do que convencidos do ultraje, os partidos concordaram em reconsiderar suas posições
Diante da aberração que estava tomando forma, acertou o presidente Jair Bolsonaro ao sinalizar que vetaria o despropósito, caso a intenção fosse levada adiante. Felizmente, mesmo que mais encabulados com a repercussão negativa do que convencidos do ultraje que estavam próximos de cometer, os líderes das siglas envolvidas na exorbitância concordaram em reconsiderar suas posições.
Mesmo com os sucessivos rombos no orçamento nos últimos anos, o deputado, sem corar, chegou a justificar o aumento dos recursos do fundo eleitoral com uma estimativa de receitas para o ano que vem R$ 7 bilhões acima do inicialmente projetado. Negou ainda que o redirecionamento da verba afetaria áreas sociais. Mas o fato é que, pela proposta original dos parlamentares, cerca de R$ 500 milhões seriam retirados da saúde em 2020 para serem gastos nas campanhas. A educação perderia outros R$ 280 milhões.
Nas democracias, as campanhas precisam ser financiadas de alguma forma. Com estão vetadas desde 2015 as doações de empresas, é lógico que a maior parte dos recursos destinados a sustentar as candidaturas tenha origem pública. Mas isso não pode ser confundido com tolerância ao abuso. Afinal, é dinheiro que sai do bolso do contribuinte, submetido a uma altíssima carga tributária, mas sem uma contrapartida condizente em serviços. Se a ideia da maioria do Congresso vingasse, áreas prioritárias para a população, que já sofrem com a falta de recursos, seriam ainda mais castigadas.