Inspirado pelo simbolismo da chegada de uma nova década, o Brasil precisa finalmente despertar e, mais importante ainda, agir desde já para não ter um novo decênio desperdiçado. Na era do conhecimento, o ritmo das transformações tecnológicas é cada vez mais frenético e, nesta corrida, enquanto o país vacila, outras nações aceleram o passo por meio da educação.
O Brasil encerra o período 2010-2019 com o menor crescimento médio da economia em 120 décadas, desde que iniciaram as estatísticas oficiais. O desemprego de hoje é superior ao de 10 anos atrás. A produtividade da mão de obra, as taxas de desigualdade, a renda per capita e vários outros indicadores socioeconômicos estão estagnados. A mesma inércia é verificada na qualidade do ensino brasileiro, como mostrou o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), comparação entre 79 países em que nossos alunos de 15 anos aparecem, em matemática, leitura e ciências, sempre entre os 20 piores. O IBGE nos lembrou ainda, neste ano, que metade da população com 25 anos ou mais não concluiu o Ensino Médio e um terço sequer terminou o Fundamental. Eis uma boa parte da explicação da tragédia brasileira.
É urgente deflagrar uma revolução pelo ensino, partindo do princípio de que o fundamental é avançar de forma consistente nos níveis de aprendizado de crianças e jovens
É urgente, portanto, deflagrar uma revolução pelo ensino, partindo do princípio de que o fundamental é avançar de forma consistente nos níveis de aprendizado de nossas crianças e jovens. Há de se encontrar ainda formas de melhor valorizar os professores e aperfeiçoar a sua formação, também com a perspectiva de que serão mestres em uma época de disrupção constante, de rápida obsolescência de tecnologias, processos e profissões. As novas gerações de brasileiros, além do básico, como entender o que leem, precisarão estar preparados para um contínuo reaprendizado ao longo da vida.
Mas há boas novas. A atualização dos conhecimentos e habilidades essenciais a serem ensinados aos alunos está a caminho. A Base Nacional Comum Curricular, homologada ao final de 2018, começa a ser implementada em 2020 nas escolas. O Conselho Nacional de Educação tem aprovadas as novas diretrizes para a preparação de docentes, com maior duração dos cursos e mais atenção a atividades práticas. Espera-se agora a sanção pelo MEC para começar a atualizar os currículos nos cursos de formação de professores. São transformações que precisam chegar especialmente rápido na rede pública, sob pena de atrasarmos a jornada na busca por romper o atual círculo nefasto em que a educação, assimétrica, é um elemento realimentador da alta desigualdade brasileira.
Mas o avanço tem de ser conjunto e harmonioso. Ciência, tecnologia, inteligência artificial e inovação ganharão um peso cada vez maior na economia do futuro. Para ser protagonista neste jogo global, não há fórmula que exclua um cuidado especial com a educação. Caso contrário, o Brasil seguirá um competidor medíocre na maratona do desenvolvimento, esperando outro boom de commodities para ter um novo surto de crescimento fugaz. Além de evitar desperdiçar uma nova década, o país precisa se preparar para as próximas que virão.