Esperança, frustração e novamente crença em uma retomada encorpada e perdurável foram os sentimento que se sucederam e se misturaram na economia brasileira no decorrer de 2019. O país adentrou o ano confiante na reaceleração da atividade após dois anos de recessão e outros dois de pequena melhora, mas ao longo do primeiro semestre voltou a ter calafrios com o fantasma de uma recessão técnica, felizmente exorcizado. O calendário prestes a ser novamente virado traz de volta a expectativa de um ritmo de avanço mais consistente do PIB em 2020, acima de 2%, caso se confirmem as previsões mais recentes compiladas pelo Boletim Focus, do Banco Central.
O crescimento tímido dos três últimos anos, após a recessão de 2015 e 2016, mostra que a reconstrução do Brasil está recém começando
Ainda à espera dos números do último trimestre, o consenso atual do mercado indica que o Brasil vai crescer em torno de 1,1% em 2019. Parece razoável se lembrarmos que o país chegou a andar outra vez para trás no início do ano, mas pouco se o olhar retroceder mais alguns meses. No crepúsculo de 2018, esperava-se para este ano um avanço de 2,5% do PIB e o que se entrega agora é menos da metade.
É conhecida a dificuldade de perscrutar o horizonte da economia brasileira, sempre sujeita a surpresas de toda ordem, de rompimentos de barragens a greves nos transportes, como mostraram os últimos anos. Mas o recado que fica do desempenho de 2019 é o de que os empresários e a população em geral precisam de maior estabilidade política em 2020 para, mais convictos, terem segurança para investir e consumir e assim também voltarem a se dedicar a planos de mais longo prazo, com certa tranquilidade. Desta forma será possível crescer em patamares mais aceitáveis e, principalmente, continuar a golpear a chaga do desemprego, uma angústia que hoje aflige 11,9 milhões de brasileiros, além de deixar outros 4,7 milhões de desalentados, pessoas que sequer mais forças têm para buscar recolocação no mercado de trabalho.
O país também está sujeito às borrascas da economia internacional. Em 2019, a guerra comercial entre EUA e China e a crise argentina atrapalharam a retomada brasileira. Mas existe muito o que fazer na trincheira interna. Há bases firmes, como o juro em mínimas históricas, o que estimula o crédito, no consumo e no investimento. O melhor Natal para o comércio desde 2014 confirma este novo ânimo. A inflação está baixa e controlada, apesar do repique dos alimentos. O risco-país, da mesma forma, está no menor nível em quase uma década. Aprovada, a reforma da Previdência dá maiores garantias de sustentabilidade das contas públicas. Os avanços contidos na Lei da Liberdade Econômica tendem a disseminar seus efeitos positivos daqui para a frente, removendo o entulho burocrático para quem quer empreender.
Mas é inadiável tocar reformas como a administrativa e a tributária logo no início do ano, inoculando maior dose de confiança nos agentes econômicos. Privatizações e concessões têm de ser agilizadas, dando ao capital privado o protagonismo do novo ciclo de desenvolvimento que o Brasil pode estar às portas. Mas um melhor ambiente para os negócios, é preciso ressaltar, pede um país mais distensionado. Basta de polêmicas e conflitos desnecessários e de ruídos em torno de ideologia. Após um ano de mandato, é justo esperar que o presidente Jair Bolsonaro tenha amadurecido e finalmente demonstre ter compreendido que foi eleito para governar para todos. O crescimento tímido dos três últimos anos, após a recessão de 2015 e 2016, mostra que a reconstrução do Brasil está recém começando. É preciso responsabilidade para impedir uma nova frustração.