Chega ao fim o primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro em uma montanha-russa de acontecimentos e emoções à flor da pele que em muito ainda lembram a campanha eleitoral de 2018 e que de alguma forma serviram de constante teste para as instituições do país. Foram poucas as semanas em que o Brasil não se viu sobressaltado por atitudes, intenções ou declarações polêmicas do presidente e de seu entorno ideológico, no governo e na família. O estado de permanente tensão, alimentado pelas redes sociais, no qual o núcleo radical do bolsonarismo costuma atacar dissidentes e estimular seguidores, mais atrapalhou do que ajudou o Planalto.
A postura de colocar à frente na ordem de prioridades a mobilização dos mais fanáticos ante a necessidade de passar confiança à população ocasionou, repetidas vezes, desvios na percepção dos avanços obtidos pela gestão Bolsonaro, que não foram poucos. O governo conseguiu aprovar a reforma da Previdência, que, embora não atendesse a toda a necessidade de corte de despesas, foi o mais significativo avanço na economia em muitos anos. A Lei da Liberdade Econômica, com a remoção de obstáculos ao empreendedorismo, é outra herança positiva que terá efeitos benéficos para o desenvolvimento por muitas décadas à frente, bem como a silenciosa revolução da digitalização e desburocratização da relação do cidadão com o governo. Em algumas áreas, como a da infraestrutura, fez-se em 12 meses o que não havia sido feito em anos, muitas vezes com o apoio dos batalhões de Engenharia do Exército. As privatizações encaminhadas e outras mudanças estruturais essenciais ao país em fase de gestação, como as reformas administrativa e tributária, também apontam na direção de uma bem-vinda racionalização dos gastos do Estado e de um melhor ambiente para os negócios.
As instituições da democracia brasileira demonstraram que, mesmo colocadas à prova em 2019, seguem sólidas e resistirão a qualquer tentativa de subjugá-las
Mas, ao mesmo tempo, a gestão Bolsonaro produziu uma série de movimentos danosos à imprescindível pacificação nacional. Comprou brigas externas desnecessárias, como com a França e com o novo governo argentino. Atacou a imprensa independente, inclusive com medidas provisórias destinadas a enfraquecê-la, semeou conflitos internos com o Congresso e com setores da cultura, apenas para citar alguns casos. Neste quadro de tensões, a educação, que deveria ser um dos destaques da administração, transformou-se em um redemoinho de polêmicas inúteis que traga eventuais avanços e a urgente necessidade de uma revolução no setor.
Outro erro de envergadura foi no tema ambiental. Ao desacreditar a ciência, fazer manifestações interpretadas como incentivo a desmatamentos e queimadas na Amazônia, desdenhar do fundo que Noruega e Alemanha abasteciam para ações de preservação, fazer acusações sem provas a ONGs e desmoralizar e desmontar a estrutura de fiscalização, Bolsonaro causou danos de difícil reparação à imagem do Brasil. O estrago afasta investidores estrangeiros e ameaça inclusive o agronegócio, área em que o país é mais competitivo em termos globais.
Ao confundir comunicação de governo com tuítes da família, Bolsonaro colaborou para que muitos avanços submergissem e as controvérsias ocupassem a agenda nacional. O núcleo mais radical imaginou que redes sociais e entrevistas improvisadas, frequentemente desastradas, seriam o suficiente para passar as mensagens do Executivo. Mas a forma, centralizada demais na figura presidencial, acaba escondendo ou desvalorizando ações positivas encontradas em ministérios como os da Economia, Agricultura e Infraestrutura, pastas que dão boas respostas às demandas do país. O reflexo está na popularidade de Bolsonaro, a mais baixa para um primeiro ano de mandato entre os presidentes eleitos.
Fica a esperança de que o governo tenha aprendido com os desacertos, melhore a articulação com o Congresso e se conscientize da importância de o país ter um líder que mostre mais serenidade e menos beligerância e arroubos. Caso contrário, como mostrou 2019, seguirão os recordes de iniciativas do Executivo como medidas provisórias, vetos e decretos derrubados pelo parlamento ou barrados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Afinal, as instituições da democracia brasileira demonstraram que, mesmo colocadas à prova em 2019, seguem sólidas e resistirão a qualquer tentativa de subjugá-las.