Por Pedro de Cesaro, presidente do IEE
Denominar o mandato do presidente da Argentina, Maurício Macri, de liberal é piada de mau gosto ou falta de conhecimento. No primeiro semestre de seu governo, Macri implementou algumas medidas de cunho liberal, como o fim do "cepo" cambial, criado pelos Kirchner, que consistia no controle pelo governo do mercado de câmbio, e também a abolição do controle de preços e tarifas, os chamados "precios cuidados", que eram, na prática, um congelamento das tarifas de serviços públicos. Mas a cartilha liberal do presidente Macri não foi muito adiante.
A Argentina pós-era Kirchner (2003-2015) foi entregue a Macri completamente combalida. Conforme dados da Universidade de Harvard, os argentinos, em 2014, estavam mais pobres do que em 1998 e, segundo dados do Unicef, ao final do último mandato de Cristina, a pobreza geral na Argentina atingia quase 30% da população. Em 1895, a Argentina tinha o maior PIB per capita do mundo, maior do que o dos EUA e o do Reino Unido, e quase nove vezes maior do que do Brasil à época. Até 1940, a Argentina era a sexta maior economia do mundo. Mas os diversos governos peronistas afundaram o país.
Para sair dessa crise abrupta, a medicação indicada, infelizmente, deveria ser muito amarga para os hermanos. No entanto, não foi receitada. Assim, como nos últimos governos peronistas, os gastos públicos não cessaram e levaram a um aumento do déficit público, coberto com a impressão de moeda pelos governos populistas. Ao ligarem as impressoras e criarem moeda artificialmente, geraram inflação.
Corte nos gastos públicos, controle do déficit fiscal, restrição na expansão monetária com consequente controle da inflação, privatizações, diminuição de regulamentações e burocracias, abertura do mercado para maior concorrência entre as empresas, tudo o que manda a cartilha liberal não foi realizado na Argentina.
Agora, para tentar vencer a eleição, Macri dá uma guinada total à esquerda no melhor estilo peronista. Implementou congelamento de preços, aumento do salário mínimo pela segunda vez no ano, bônus para os trabalhadores e ajuda para pequenas e médias empresas.
O populismo ganhou mais uma vez na Argentina, não importando o candidato que saia vencedor em outubro. Ayn Rand, uma das principais referências liberais e escritora favorita de Macri, deve estar se revirando no caixão por não ter ensinado a lição liberal.