Por Fernando Ferrari Filho, professor titular aposentado da UFRGS, pesquisador do CNPq e professor visitante da Washington and Lee University, nos Estados Unidos
Como se sabe, os governos de Mauricio Macri (centro-direita), Dilma Rousseff (centro-esquerda) e Michel Temer (centro), objetivando assegurar os "fundamentos macroeconômicos", quais sejam, equilíbrios fiscal e externo, e, por consequência, criar condições para o crescimento econômico sustentável, adotaram políticas de austeridades fiscal e monetária, implementaram reformas estrutural-institucionais pró-mercado, desregularam setores econômicos e privatizaram algumas empresas públicas. Os resultados das referidas medidas, especialmente as relacionadas às austeridades fiscal e monetária, foram responsáveis pelo recrudescimento dos desequilíbrios fiscais e endividamentos públicos de ambos os países, bem como contribuíram para as crises econômicas da Argentina e do Brasil entre 2015 e 2018 (nesse período, o crescimento médio do PIB da Argentina foi de 1,1% ao ano, enquanto o PIB da economia brasileira acumulou uma queda da ordem de 5,0%).
Diante do exposto e considerando que os governos Macri e Jair Bolsonaro entendem que a solução dos problemas econômicos passam, necessariamente, por um choque de liberalismo, ou seja, Estado mínimo e soberania da "mão invisível" do Mercado, três reflexões e uma especulação.
Em relação às reflexões, primeiro, desde a crise financeira internacional de 2007-2008, o modus operandi da economia mundial tem sido caracterizado pelo intervencionismo do Estado e dos bancos centrais, e não por uma agenda econômica liberal, como propõem Macri e Bolsonaro. Segundo, para que Argentina e Brasil consigam equacionar a crise fiscal, reverter a estagnação econômica e reduzir a alta taxa de desemprego, são necessárias medidas que despertem, conforme argumentava J.M. Keynes, o animal spirits dos agentes econômicos. Para tanto, são imprescindíveis (i) políticas monetária e fiscal contracíclicas, (ii) reformas estruturais, tais como "desprivatização" do Estado, e tributária, (iii) parcerias público-privadas e (iv) políticas institucionais, entre as quais industrial e tecnológica. Terceiro, o liberalismo de Macri não agravou os problemas econômicos da Argentina, bem como fez com que a probabilidade de ele não ser reeleito seja muito elevada (no último 11 de agosto, o candidato oposicionista à presidência da Argentina venceu com larga vantagem as eleições primárias).
Quanto à especulação, a partir da situação atual dos hermanos, podemos ter um revival do "efeito Orloff", ou seja, o futuro do Brasil de Bolsonaro passa pela Argentina de Macri em 2019?