Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Fico sempre feliz quando vejo alguns de meus autores favoritos citados em um veículo do mainstream da literatura de negócios. Foi assim, em junho, quando li o comentário de Richard Straub na Harvard Business Review a respeito de mudanças paradigmáticas necessárias para que a gestão continue funcionando em uma era de organizações conectadas a redes complexas de criação de valor, que ele chama metaforicamente de ecossistemas.
Ver Forrester, Ackoff, Senge e Drucker no mesmo artigo é algo que anima nerds das organizações como eu. No entanto, é possível perceber, no discurso de Straub, um pensamento cibernético primitivo, baseado em uma velha visão de controle. Ele ainda enxerga essas redes como mecanismos criados por grandes organizações para capturar mais valor, sobretudo sob a forma de dinheiro.
Faltou Donella Meadows em sua lista de leituras. Aliás, seria mais do que justo citar uma mulher que transformou a maneira de entender organizações e ecossistemas. Trata-se de uma das autoras fundamentais para entender que ver o mundo em sistemas é diferente de conceber novos sistemas para sugar valor.
O que acontece é que algumas organizações-plataforma, como as empresas que detêm as principais mídias digitais no mundo, desenvolveram uma capacidade de enxergar sistemas sociais para depois intervir neles usando software. Isso não é o mesmo que criar sistemas sociais do zero para realizar seus objetivos.
É o choque (há muito superado na teoria) entre quem ainda acha que sistemas são sempre criados para fins e usuários específicos e quem já entendeu que um sistema é um ponto de vista de alguém que teima em enxergar relações entre todos e partes.
Não é que o Facebook tenha criado a amizade ou a difusão de notícias. A empresa entendeu bem como essas duas coisas funcionam e criou uma intervenção que se encaixa bem na realidade delas.
Daqui para frente, essa capacidade de ler e mapear relações complexas vai ser cada vez mais exigida, sobretudo daquelas organizações que pretendem inovar. Desde a metade do século passado, isso tem nome: pensamento sistêmico. Trata-se de aprender a desvendar estruturas causais por trás de fatos e eventos, o oposto do que a ciência tradicional pratica. Liderar nesse contexto volta a ser sobre o sentir e o ser, dimensões que normalmente deixamos de lado em nossas vidas profissionais.