Por Igor Oliveira, consultor empresarial
O economista Paulo Gala tem feito um trabalho muito interessante de divulgação do campo da complexidade econômica, mostrando caminhos para o Brasil deixar de ser mero exportador de recursos naturais, o que tem sido nossa sina desde a gênese da nação.
Na semana passada, ele repercutiu uma análise do também economista Guilherme Magacho, que aponta que o salto em escolaridade dado pelo Brasil não foi acompanhado de um salto de renda. Gala implicitamente argumenta que isso se deve a um equívoco de política industrial. Frequentemente sugere fechar alguns mercados para trazer indústria ao território nacional e utilizar mão de obra escolarizada em funções de maior valor.
A primeira observação que faço é sobre aquilo que estamos medindo. Anos de escolaridade não significam necessariamente aprendizado. Renda não significa necessariamente uma vida mais plena.
Mesmo se aderíssemos a essas métricas, precisaríamos trazer também uma dimensão qualitativa para essa análise da escolaridade. Quanto desse tempo na escola é dedicado a desenvolver competências ligadas à criação de valor? Pouco. Ou seja, os brasileiros agora ficam mais tempo na escola, mas não aprendem a resolver problemas reais de pessoas e organizações que depois possam pagar por isso.
Justamente por estar dando tardiamente os saltos quantitativo e qualitativo na educação, o Brasil teria a oportunidade de não ficar preso ao convencional. Poderia criar um sistema educacional baseado em experiências práticas, não apenas produtivas, mas também sociais. Ensinar a inovar desde cedo. Na indústria, no setor de serviços de alto valor, na agricultura e mesmo em outras áreas, como artes, governo e mobilização civil.
Para isso, seria necessário redesenhar toda a experiência educacional no Brasil, desde a primeira infância até o Ensino Superior. Deixar que os muros das escolas possam ser pulados para que haja contato mais cedo com o mundo lá fora.
Nem o freirismo barato, nem o produtivismo extremo de sistemas educacionais como o coreano e o chinês cumprem esse papel. Paulo Freire escreveu uma obra maravilhosa, mas o fato é que ela hoje é utilizada como justificativa para todo tipo de corporativismo.
Nosso debate público sobre educação resume-se a um embate ideológico entre professores e um governo que utiliza a pasta da Educação para desviar o foco de suas falhas, inventando polêmicas que nem sequer existem. Nesse ritmo, vamos perder mais uma década.