Por Igor Oliveira, consultor empresarial
No final do mês passado, o MEC anunciou um bloqueio de 30% nas verbas de custeio e investimento de três universidades: UFF, UnB e UFBA. O ministro recém-empossado justificou a medida dizendo que as instituições fazem “balbúrdia” em vez de focar no desempenho acadêmico. Depois, estendeu o congelamento a todas as universidades federais. Demonstrou agir por preconceito e ideologia.
Paralelamente, se iniciou no WhatsApp uma enorme campanha, baseada em imagens descontextualizadas, muitas delas antigas ou sem qualquer nexo real com universidades federais. Foi um esforço orquestrado, com apoio profissional, para degradar a imagem das instituições de Ensino Superior brasileiras. Mais uma vez, não fica claro de onde vem o dinheiro para financiar os robôs, articuladores e estrategistas que atuam nessas campanhas massivas, que, aliás, vêm sendo usadas desde a eleição, quando configuraram flagrante crime eleitoral.
O problema é que o outro lado também não se ajuda. A única reação das universidades é esbravejar. Se essas instituições são tão importantes assim para a sociedade, por que são tão suscetíveis a um corte que pode acontecer repentinamente? Em décadas de existência, não conseguiram diversificar suas fontes de financiamento entre públicas e privadas, nacionais e internacionais?
É preciso, antes de tudo, relembrar que nosso gasto público em educação superior, cerca de 1% do PIB, é compatível com o de outras grandes nações. Não defendo, necessariamente, que sejam feitos cortes, mas o certo é que precisamos de uma maior interação com outros atores para reduzir a dependência.
A academia brasileira não estaria nessa posição lamentável se tivesse saído das salas mofadas para cooperar com o setor produtivo (sobretudo aquele que inova), fundações privadas, redes internacionais de pesquisa, organizações multilaterais. Até mesmo com a comunidade do entorno. Se tivesse dedicado a isso um pouco da energia que usou para publicar em periódicos que ninguém lê, cheios de referências cruzadas e processos editoriais fajutos.
Se tivesse aprendido a publicar em inglês em vez de decifrar a burocracia estatal de um país que fala uma língua que quase ninguém mais fala. Se tivesse entendido que inovação se faz com startups e spinoffs. Se tivesse abraçado com afinco as tecnologias educacionais que permitem aprendizado massivo com menor dedicação daqueles professores que custam caro. Se tivesse contratado gente com iniciativa em vez de profissionais diplomados pelos mesmos círculos de sempre.
A lista é interminável. O fato é que essa cova foi cavada por quem agora agoniza e implora que sejam mantidos ligados os aparelhos.