Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Semana passada, GaúchaZH produziu um especial sobre inovação em Porto Alegre e no Vale do Sinos. Trabalho louvável do repórter Erik Farina e equipe. Muitas vezes, aquilo que pode salvar nosso futuro está debaixo dos nossos narizes, mas não enxergamos. Todo esforço para reconhecer aquilo que emerge perto de casa merece aplausos.
Em 2010, fundei, com outros jovens profissionais, a Semente Negócios, empresa pioneira em trazer conceitos como lean startup e customer development para o Brasil. Depois, levamos essas ferramentas para mercados pouco habituados à mentalidade de startup, como o interior do Pará e o setor de educação. Hoje, tenho entre minhas atividades profissionais uma posição na Startup Heatmap, uma organização internacional pioneira em mapear ecossistemas de startups. Mapear inovação é, portanto, minha paixão e, também, minha profissão.
Uma das coisas que aprendi é que a relação entre inovação e território é bem diferente daquilo que vemos a olho nu. Não é porque tem uma incubadora, aceleradora ou coworking em um determinado local que haverá inovação acontecendo ali. Infelizmente – e esse é um problema mundial – muitas dessas organizações de apoio não materializam comunidades reais de empreendedores. Frequentemente, são apenas infraestruturas pouco utilizadas ou que sediam organizações que pouco fazem de transformador.
Uma das melhores maneiras de antecipar o surgimento de inovações é mensurar conexões e interações nessas comunidades de rebeldes. Na Europa, nossa pesquisa descobriu que mais de 60% das startups têm laços fundamentais fora do país-sede: investidores, grandes clientes, equipe, entidade jurídica. Isso nos levou a desafiar algumas políticas nacionais e regionais que buscam reter empreendedores e startups no território. Hoje, temos cinco governos, além de fundações privadas e fundos de investimento, que abraçam um olhar mais quantitativo sobre esses acontecimentos.
Outro fator importante é o temporal. Quanto tempo leva, em média, para uma startup porto-alegrense conseguir sentar com um investidor-anjo? Qual o intervalo entre a entrada em uma aceleradora e o recebimento de uma próxima rodada de investimento? Quanto tempo até a primeira receita recorrente? São métricas como essas que precisamos observar se quisermos entender o fenômeno da inovação para além da primeira impressão.