Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
Na semana passada, fui almoçar com dois amigos antes de Inter x Palmeiras pela Copa do Brasil. A partida, claro, era um assunto inescapável. Eu estava pessimista sem motivo concreto. Os meus amigos, ao contrário, estavam otimistas, também sem nenhuma razão objetiva. O otimista tem a vantagem de, em momentos de torcida e paixão, não precisar de racionalidade alguma. Já o pessimista precisa encontrar uma justificativa plausível, sob pena de parecer apenas um agourento. Funciona no futebol e para o Brasil, que vive um conflito de torcidas fanáticas. Se alguém levanta pontos críticos do atual governo e duvida de seus caminhos futuros, logo é tachado de oposição – ou, no mínimo, de secador.
Meu argumento para o eventual pessimismo residia na grandeza do jogo, o mais importante do atual técnico colorado – de quem gosto como pessoa e treinador. Seria ele um daqueles casos de gente boa e competente sem estrela de vencedor? Este era meu receio. Você sabe, a vida nem sempre é justa. Alguns são bons e têm aquela aura, aquela sorte, aquele toque de midas que os torna um sucesso em tudo o que fazem. O pão cai no chão com a manteiga para cima. Já outros são tão bons quanto aqueles, às vezes até melhores, mas a sorte não lhes sorri. Pode ser falta de tenacidade, de garra, de capricho ou apenas falta de destino mesmo. O fato é que, como diz o meu amigo Dado Schneider, o Eric Clapton já deve ter encontrado dezenas de guitarristas melhores do que ele com a conta bancária bem pior. Talento precisa de um pouco de conspiração do universo para ser chamado de sucesso. Por sorte, talento e destino (os três nem sempre se dão bem), Odair e o Inter ficaram com a vitória.
No caso do Brasil, também ando pessimista. Não por falta de alinhamento das estrelas, já que Bolsonaro virou presidente pela conjunção única de acaso eleitoral, sorte política, talento cênico e uma facada. Mas o problema é que, ao contrário do técnico colorado, Bolsonaro não entendeu que ter estrela é apenas parte do jogo. Que é preciso trabalhar duro, saber comandar o time, trabalhar com a realidade e, principalmente, entender que o cargo é passageiro e que a vitória de hoje pode ser a derrota de amanhã, se eles quiserem apenas jogar pra torcida. Odair contrariou todo mundo escalando um jogador que ninguém queria, e ele fez o gol da vitória. Já Bolsonaro só afaga sua torcida com pauta de costumes e divisões ideológicas, dando goleada de bola fora e gol contra. E, assim como torcedores criticam e protestam contra seu próprio time, o povo tem o direito de fazer o mesmo contra seu governo. E um técnico e um presidente são para todos, e não apenas para aqueles que ficam agindo como cegos do castelo.
Como colorado e brasileiro, não abro mão de pensar, de criticar e de torcer pela vitória de ambos.