A redução nos números da criminalidade no primeiro semestre no Rio Grande do Sul é uma notícia a ser exaltada em meio a um período marcado por poucos motivos para se vangloriar em outras frentes, como economia, saúde e educação, apenas para ficar em algumas das áreas que mais afligem a população.
Os indicadores ainda estão distantes dos parâmetros de sociedades civilizadas, mas é preciso celebrar a reversão da tendência assustadora do passado recente. Ainda é necessária uma análise mais detalhada e cautelosa para se compreender a interação de fatores que levou ao recuo nos homicídios, nos latrocínios, na violência contra a mulher e nos furtos. De qualquer forma, coincide com um esforço maior nos últimos dois anos das autoridades que lidam com a segurança, após os gaúchos, sobressaltados, assistirem a uma escalada de assassinatos, até chegarem ao recorde, em 2017.
Além do comprometimento da Polícia Civil e da Brigada Militar no combate à criminalidade, a transferência de líderes de facções para outros Estados, dificultando a coordenação das quadrilhas mais organizadas, pode ser apontada como uma das razões que levaram, por exemplo, à possibilidade de o Rio Grande do Sul ter, de janeiro a junho, menos de mil homicídios, uma marca que não era alcançada desde 2011.
O reconhecimento do trabalho das forças policiais deve ainda ser feito pelo resultado ter sido obtido justamente quando o governo gaúcho enfrenta o auge da sua crise financeira, com reflexos em baixos investimentos na área e na incapacidade de repor o efetivo em um nível minimamente necessário. Mesmo assim, não é possível fechar os olhos para outras interpretações do fenômeno, como uma reacomodação de forças e territórios principalmente entre traficantes, levando a um refluxo da guerra travada entre os bandos.
Os números, entretanto, não significam o ingresso definitivo em uma era de mais tranquilidade para a população. Restam problemas crônicos a serem equacionados, como a falência do sistema prisional. Com falta de vagas nos presídios, chocam as cenas repetidas de presos custodiados em viaturas e delegacias, retirando homens e veículos do trabalho nas ruas.
Ao mesmo tempo, espera-se para logo a superação da burocracia que trava a implementação da lei, aprovada pela Assembleia há quase um ano, que permite à iniciativa privada doar parte do ICMS devido para investimentos em veículos, armamento, munição ou câmeras de vigilância. O vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, que também acumula a pasta da Segurança, disse ontem que, após ajustes no Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), será possível começar a colocar a legislação em prática nas próximas semanas. É o que a sociedade gaúcha deve cobrar.