Estado historicamente marcado por divisões que parecem irreconciliáveis, o Rio Grande do Sul está dando um exemplo de como diferenças podem ser deixadas de lado em nome de um bem maior. É louvável o gesto de Internacional e Grêmio de se unirem ao poder público e a empresas, entidades e cidadãos na ampla rede criada para propiciar algum conforto a moradores de rua, exatamente quando uma forte massa de ar polar passa sobre o território gaúcho e derruba as temperaturas mínimas para perto de 0ºC.
Assim como fez o argentino River Plate, com o estádio Monumental de Núñez, o Inter teve a iniciativa de abrir as portas do Gigantinho e mobilizou suas torcidas organizadas e funcionários para, em parceria com a ONG Cozinheiros do Bem, preparar e oferecer refeições à população sem-teto. A despeito da rivalidade dentro de campo, o Grêmio providenciou a doação de 600 cobertores e de alimentos. Uma aliança contagiante que levou um grande número de porto-alegrenses a também se motivar a reunir mantimentos e roupas quentes e se deslocar até o ginásio do Inter para ajudar a aliviar o padecimento de quem muitas vezes não tem o que comer e sofre com o frio nos dias mais gelados do inverno.
Aliança contagiante levou grande número de cidadãos a também se motivarem a doar mantimentos e roupas
Sensibilizadas, empresas e outras entidades se engajaram na corrente de amparo aos mais necessitados. A prefeitura da Capital, que conta com sua rede de albergues e tem papel central no acolhimento, disponibilizou colchões arrecadados na Campanha do Agasalho. Ao mesmo tempo, a Defesa Civil do Estado pede novas doa-
ções de cobertores, roupas e calçados. Por ação semelhante, merece reconhecimento ainda o Sport Club São Paulo, de Rio Grande, que abriu o estádio Aldo Dapuzzo para receber moradores de rua durante a noite de sexta-feira.
A solidariedade, mostra esse episódio, também é um grande ativo do Rio Grande do Sul. A conciliação em torno do auxílio aos moradores de rua simboliza que é possível encontrar consensos para contornar dificuldades que põem obstáculos no caminho de um futuro melhor para os gaúchos. E são muitos os desafios, em áreas como finanças, educação, saúde, segurança e infraestrutura. Encontrar soluções e colocá-las em prática requer menos rancor e mais concórdia. Apenas com diálogo e respeito será possível suplantar as cizânias de toda natureza – sejam elas sociais, ideológicas ou clubísticas – que, nas últimas décadas, deixaram o Estado congelado no tempo.