Não houve o apocalipse vaticinado pelos adversários nem foi a redenção do país como esperavam os seguidores mais devotados do presidente. Uma análise desapaixonada dos seis primeiros meses do governo Jair Bolsonaro mostra acertos e erros.
Pelo lado positivo, deve-se reconhecer que o Planalto encaminhou questões relevantes, como medidas para desburocratizar a economia e dar mais liberdade aos empreendedores, em busca de uma necessária modernização, enquanto também endereçou ao Congresso a mais importante das pautas, a proposta de reforma da Previdência – mesmo não sendo um assunto com o qual Bolsonaro mostre entusiasmo ou empenho pessoal para sua aprovação. Ao mesmo tempo, teve a razoabilidade de rever alguns dogmas e, assim, por exemplo, facilitar a assinatura do acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia.
É preciso unir, e não incentivar divisão ainda maior da sociedade, para que o país possa se pacificar
No entanto, o governo padece de um problema crônico em sua comunicação. O uso preferencial das redes sociais tornou-se um vazadouro de declarações estapafúrdias e destrambelhadas que ofuscam o bom trabalho de ministérios como o da Infraestrutura e o da Agricultura. São áreas que, em meio às alas mais sectárias do Executivo, preferem arregaçar as mangas a fazer discursos ideológicos que nada ajudam o país. Em pastas como a Educação, no entanto, o desperdício de energia é assustador. O mesmo pode ser observado na política ambiental, crucial para a imagem externa do país.
Outro ponto que precisa ser corrigido é a insistência em tentar governar por decretos e medidas provisórias, criando desgastes inúteis com o Congresso e o Judiciário. Ações voluntaristas que usurpam a competência de outros poderes, apenas para agradar ao eleitorado mais fiel, só semeiam discórdias. Se o Planalto insiste que não quer o toma lá da cá – mesmo que tenha recorrido à liberação de emendas pela aprovação da Previdência –, precisa ao menos melhorar a articulação com o parlamento. Sem construir uma base confiável, com que possa contar para os projetos estruturantes mais importantes, Bolsonaro corre o risco de se transformar, como mesmo referiu, em um presidente que pouco governa de fato.
A economia segue inerte, e o desemprego, nas alturas. É urgente que o Planalto acene com uma agenda robusta que possa fazer o país retomar o crescimento. Para isso, precisa baixar a temperatura política, controlar as vozes mais estridentes, fazer parte – e não ir a reboque – das discussões sobre a reforma tributária e acelerar privatizações e parcerias público-privadas. Só assim será capaz de incentivar a volta dos investimentos produtivos, inclusive externos.
Balanços, como esse dos seis meses, têm serventia apenas quando se está aberto para reparar equívocos. É o caminho para futuros acertos e soluções. Um semestre é pouco para uma avaliação definitiva de qualquer governo, mas a guinada precisa ser significativa. Todos os brasileiros, inclusive os que não votaram no candidato vitorioso, estão no mesmo barco. É preciso unir, e não incentivar uma divisão ainda maior da sociedade, para que o país possa se pacificar e reencontrar a trilha do desenvolvimento.