É péssima, neste momento, a imagem do Brasil no Exterior. E a má notícia é que pode piorar. Posições esdrúxulas, declarações desastradas e comunicação calamitosa do governo federal somam-se para que, em grande parte do mundo, a percepção em relação ao país não pare de se deteriorar. O ponto mais sensível, agora, é o ambiental, como comprovou o mal-estar entre o presidente Jair Bolsonaro e os líderes da França e da Alemanha na cúpula do G-20. O descaso do governo com a preocupação internacional sobre o desmatamento pode potencializar os danos.
A imagem de uma pessoa, de uma nação, de uma empresa ou de uma instituição, mesmo que às vezes possa estar distorcida, exagerada ou carregada de estereótipos, geralmente tem consequências. Para o bem e para o mal. No caso do Brasil, infelizmente, a antipatia não pode ser atribuída a um ou outro ruído. Controvérsias ambientais partindo do governo Bolsonaro não faltam. Desdenhar de dados que mostram aumento da derrubada de florestas, dar pouca importância à proteção dos índios, liberar agrotóxicos a granel, polemizar com a Alemanha e a Noruega sobre a gestão do Fundo Amazônia e a ameaça de sair do Acordo de Paris são alguns exemplos de posturas que vêm causando estupefação global. A exceção é o norte-americano Donald Trump, mas o presidente da maior potência do planeta pode – infelizmente – se dar ao luxo de defender retrocessos sem sequelas econômicas significativas. O Brasil, não.
Nos quatro cantos do planeta, consumidores estão cada vez mais atentos à sustentabilidade
Persistir na posse e no porte de concepções ilógicas traz o risco, por exemplo, de prejudicar as vendas de produtos agropecuários, setor mais dinâmico e competitivo da economia brasileira. Nos quatro cantos do planeta, consumidores estão cada vez mais atentos à sustentabilidade do que compram. Os líderes de entidades do agronegócio que pensam a médio e longo prazo sabem disso e correm para colocar panos quentes a cada frase de pouca ponderação. O próprio turismo, agraciado com a natureza exuberante do Brasil, pode sofrer impacto negativo com as mensagens repetidas pelo Planalto – que, quando questionado sobre qualquer tema relacionado, em vez argumentar, parte para a desqualificação.
Autossabotar o país para satisfazer a parcela mais radical do eleitorado, agarrando-se inclusive a crenças que não encontram amparo na ciência ou contrariam o bom senso, é um tiro no pé. Ao regredir três décadas no esforço para reverter a má percepção mundial em relação a práticas sustentáveis, de forma lamentável o Brasil está se recolocando na lista dos párias ambientais.