A incansável e aparentemente inesgotável movimentação jurídica para soltar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com mais um capítulo na terça-feira, produziu o efeito de engrossar as manifestações previstas para o próximo dia 30, que têm como uma de suas bandeiras a defesa da Lava-Jato. Está claro que o processo envolvendo o petista, por tudo que o cerca, nunca foi – e pelas circunstâncias emocionais não poderia ser – como outro qualquer.
A condenação do ex-presidente levou a uma rearticulação de políticos e investigados
As pressões populares, de ambos os lados, com manifestações quase diárias e uso intensivo de redes sociais nas trincheiras ideológicas, somaram-se a amplos e naturais espaços na imprensa para tornar este um julgamento de alta voltagem política. Em boa medida, além de uma proximidade inadequada entre o então juiz federal e hoje ministro Sergio Moro e procuradores, as trocas de mensagens divulgadas até agora pelo site The Intercept revelam a preocupação da força-tarefa em proteger de pressões e sabotagens de toda ordem uma operação destinada a passar a limpo a estrutura política do país. A evidência mais óbvia de que, no caso de Lula, não se trata de um processo trivial, é o acesso espantoso de seus competentes advogados aos tribunais superiores, em uma procissão repetida e inabalável de embargos e pedidos de habeas corpus.
Enquanto a operação mandava para a cadeia empreiteiros, políticos de diferentes partidos, burocratas de partidos, dirigentes de estatais e os doleiros suspeitos de sempre, havia uma certa unanimidade no ar. A condenação de Lula, apontado como o grande articulador do uso da Petrobras como fonte da promiscuidade público-privada, mudou gradualmente o cenário. Rearticularam-se políticos condenados e investigados para, sob beneplácito de um segmento ínfimo mas poderoso no Judiciário, tentar reverter o efeito mais vistoso e simbólico da Lava-Jato.
A manutenção da prisão de Lula por um voto, na Segunda Turma do STF, na terça-feira, interrompeu ao menos temporariamente o roteiro imaginado para libertar o ex-presidente e apresentá-lo ao mundo como um injustiçado, mesmo que tenha sido condenado, em três instâncias, no processo mais esquadrinhado da história do país, e ainda derrotado com recursos avaliados e negados nas mais altas cortes.
Como não se trata de um processo comum, o recesso do Judiciário, até o final de julho, apenas interrompe a sequência de recursos. Após a volta aos trabalhos, o país terá novas emoções e a oportunidade de assistir a como a Justiça trata processos embalados por paixões e interesses partidários.