Em poucas ocasiões a sociedade gaúcha experimenta momentos mais trágicos do que quando servidores que colocam suas vidas em risco para proteger a população são mortos em plena ação. É dever, portanto, de todo o Rio Grande do Sul, prestar solidariedade e apoio às famílias dos PMs Rodrigo da Silva Seixas, 32 anos, e Marcelo de Fraga Feijó, 30 anos, aos colegas e à corporação da Brigada Militar, uma das instituições justificadamente mais respeitadas e reconhecidas do Estado. Os dois tombaram após tiroteio com criminosos na zona leste de Porto Alegre, na noite de quarta-feira. Quando um policial morre, não só suas famílias e a polícia são enlutadas: é como se toda a sociedade sofresse com o crime cometido contra exatamente quem tem por missão assegurar a tranquilidade e o cumprimento da lei.
Apesar de avanços para devolver o Estado a um patamar aceitável de segurança, é preciso ir além
Em todo o mundo, o risco é adjacente à atividade policial, mas no Brasil se vive uma situação-limite. No ano passado, mais de 300 policiais foram mortos no cumprimento do dever, o que coloca o Brasil em mais um triste recorde internacional. Nas ruas de grandes e pequenas cidades, trava-se uma guerra civil a conta-gotas, na qual as forças públicas são especialmente vulneráveis não só por estarem na linha de frente do combate ao crime, mas por seus componentes serem executados quando identificados por sua atividade. No Rio Grande do Sul, onde a polícia desfruta historicamente de um alto nível de credibilidade, a morte de um policial é um golpe em cada cidadão gaúcho que anda ao lado da lei, além de motivo para reflexão profunda sobre como a criminalidade deve ser contida e combatida.
Um dos aspectos fundamentais para se reverter essa situação é o desmantelamento das facções criminosas, uma perversa combinação de crime e empresa destinada a enfrentar as forças da lei e o poder do Estado. Ações como afastar os líderes de suas bases no Rio Grande do Sul foram um passo importante e deveriam ser mantidas pelo Judiciário, mas é preciso muito mais, a começar pela efetiva separação dos criminosos por grau de periculosidade. O Estado – e aqui entenda-se todos os poderes – deveria se unir e buscar uma solução definitiva para os presídios. Prender, julgar e manter presos os criminosos perigosos é o primeiro passo para se atacar a sensação de que o crime pode compensar seus riscos.
Muito se tem avançado nos últimos anos para devolver o Estado a um patamar aceitável de segurança – e os números da queda da criminalidade são um alento para quem tem a responsabilidade de conduzir as políticas públicas. Mas é preciso ir muito além. É incompreensível, por exemplo, que até agora não esteja em pleno vigor a nova Lei da Segurança, capaz de oferecer um rápido e eficaz reequipamento das polícias, e que não haja um arrojado plano de revitalização e construção de presídios, com apoio de todos os poderes, das prefeituras e da sociedade. A morte dos dois policiais, além de ser motivo de solidariedade e de luto, serve de alerta para o Rio Grande do Sul. A criminalidade não pode e nunca irá vencer os gaúchos.