Por Ricardo Hingel, economista
A atividade empresarial é, conceitualmente, uma atividade de risco. Empreendedores são, por natureza, pessoas que tomam riscos.
Todas as empresas dependem de um conjunto de variáveis que definem sua viabilidade, necessitando de uma boa compreensão econômica, do mercado em que estão inseridas, de sua capacidade de empreender, de tecnologias, da visão de oportunidades e de uma estrutura de capitais adequada. Vamos abordar, aqui, dois fatores básicos.
A conjuntura econômica é fundamental e os rumos da economia são sempre fatores aleatórios e que fogem completamente do controle de qualquer empresa. A longa recessão pela qual o país passou e um 2019 perdido prejudicou a demanda de todas as empresas, restando a elas apenas se defender. A percepção de um cenário econômico desfavorável pode vir a ser determinante para os rumos das empresas.
Conceitualmente, uma recessão traz uma diminuição da demanda. Traduzindo: uma redução generalizada de vendas. Todas as empresas têm o chamado ponto de equilíbrio, que é um nível teórico em que se obtém um ganho zero. Empresas antes lucrativas, a partir de uma queda continuada de seu faturamento, podem cair abaixo de seus pontos de equilíbrio, quando, então, deixam de ser lucrativas e apresentam deterioração de seus fluxos de caixa.
Cada empresa tem seu ponto de equilíbrio, e ele é representado por um conjunto próprio de variáveis. Embora complexos e diferentes em cada empresa, alguns fatores devem ser destacados e pedem atenção de todos, em especial aqueles ligados a seus custos fixos, que independem do faturamento e precisam ser diluídos. Todas as despesas de atividades-meio se inserem aqui, incluídos os crescentes gastos em tecnologia. Muitas empresas sucumbem na medida em que suas vendas caem e estes custos permanecem. Isso pode custar caro.
Outro ponto importante é o da estrutura de capitais. Tomar crédito e ter um nível de endividamento pode ser salutar, desde que sua amortização e o chamado serviço da dívida caibam em seu fluxo de caixa. No Brasil, face às elevadas taxas de juros, níveis de endividamento podem inviabilizar as empresas. Lembrando que a queda de faturamento reduz a geração de caixa e, ao mesmo tempo, em períodos recessivos, as empresas reduzem suas margens de lucro e terminam ficando com uma estrutura de capitais inadequada, incompatível com seu nível operacional e distanciando-se de seu ponto de equilíbrio. Ocorre uma espiral perigosa que se forma quando são contraídas dívidas para suportar gerações negativas de caixa e que se acumulam.
Em momentos como o atual, antecipar-se pode fazer a diferença.