A decisão do presidente argentino, Mauricio Macri, de ignorar o discurso de defesa do livre mercado com o qual foi eleito e ressuscitar práticas danosas, como acordo de preços e congelamento, serve de alerta para os riscos do populismo que rondam países da América Latina. Independentemente de sua ideologia, governantes tendem a se achar no direito de recorrer a práticas intervencionistas quando se sentem enfraquecidos ou ameaçados. O objetivo é sempre alcançar resultados rápidos, sem levar em conta que o custo dessas medidas costuma ser elevado a médio e longo prazos.
O Brasil paga até hoje o preço de tentativas frustradas de alcançar um crescimento sustentado
Foi esse tipo de preocupação que levou o presidente Jair Bolsonaro a tentar interferir na política de preços da Petrobras. O temor de uma nova greve dos caminhoneiros, porém, acabou provocando, na prática, uma queda considerável no valor da empresa estatal, que precisa seguir regras do mercado. O presidente argentino também foi levado ao equívoco de ressuscitar práticas econômicas heterodoxas devido a preocupações semelhantes. O fato concreto, no caso, é a proximidade das eleições de outubro. O insucesso das políticas econômicas ameaça inclusive dar margem à volta do kirchnerismo, do qual o atual governo herdou uma inflação em descontrole que não conseguiu debelar.
A Argentina entrou no século 20 entre os países mais ricos do mundo. Hoje, é vítima de uma perversa combinação de inflação em alta, perdas salariais e desemprego devido justamente à ineficácia de medidas populistas, cujas consequências não conseguiram ser enfrentadas pelo programa de Mauricio Macri. O mesmo ocorreu com a Venezuela, vítima de receituários populistas no outro espectro ideológico. Mesmo sendo dono das maiores reservas de petróleo do mundo, o país se encontra às voltas com uma hiperinflação e falta de itens básicos de consumo, sem solução à vista. Como receitas demagógicas costumam sempre fracassar, a população acaba sendo a maior prejudicada, mas os efeitos vão além.
Parceiro comercial importante do Brasil, a Argentina já impõe prejuízos inclusive à economia gaúcha, que viu as suas receitas de exportações para o país vizinho despencarem. Intervencionismos na área econômica podem até gerar algum resultado imediatista, mas o custo costuma ser sempre elevado, quando não impagável. O Brasil é um triste exemplo, pois paga até hoje o preço de tentativas frustradas de alcançar um crescimento sustentado.