Por Augusto Buchweitz, pesquisador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, professor da Escola de Ciências da Saúde (PUCRS)
A discussão sobre o método e idade de alfabetizar retomou força. São questões que estão entrelaçadas por evidências de efetividade, plasticidade do cérebro e habilidades que se desenvolvem naturalmente. O ponto chave é: aprender a ler não é natural. A criança balbucia, engatinha e passa a andar e falar naturalmente. Algumas habilidades se desenvolvem naturalmente; a leitura, não. Evidências mostram que ensinar sistematicamente relações sons-símbolos (método fônico) é a maneira mais efetiva de alfabetizar; e mais, é ainda mais efetiva para crianças desfavorecidas. Estas evidências resultam de estudos de milhares de crianças alfabetizadas pelo mundo.
A questão da idade está relacionada com a plasticidade do "cérebro da linguagem". Esta plasticidade é ótima na infância e subjaz a facilidade da criança em tomar consciência dos sons da língua, o que é determinante para a alfabetização. É preciso ler para a criança na pré-escola e aliar-se à plasticidade para alfabetizar. "Especialistas" argumentam que estímulos precoces e alfabetização aos seis anos afetam o desenvolvimento. Não há evidência alguma de prejuízo ao desenvolvimento motor, emocional, ou qualquer outro que seja associado com alfabetização nesta idade.
No Brasil, um método contrariaria autonomias previstas em lei. Argumentos formais à parte, optar por um método mais efetivo não subtrai autonomias. Políticas ineficazes, estas sim, açodam o professor; pior, sonegam à criança mais vulnerável a sua melhor chance de aprender a ler. Esta autonomia se parece mais com interesses corporativos. Adotar um método não resolverá todo problema; mas desconsiderar as evidências faz parte do problema. A Finlândia, exemplo de educação, alfabetiza seguindo um método fortemente fônico chamado letras-sons-sílabas-palavras. Seriam finlandeses autoritários? Verdade seja dita, na Finlândia a escolha é informada pela ciência, sem leis; isto basta e funciona. O verdadeiro autoritarismo está em apagar a luz das evidências na educação.