Por Juca Gil, professor de políticas educacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Anunciada a substituição de Ricardo Vélez Rodríguez por Abraham Weintraub para liderar o Ministério da Educação (MEC), Bolsonaro não explicou os motivos nem fez um balanço do que já ocorreu em seu mandato. E até agradeceu a Vélez, sem especificar quais foram os serviços prestados dignos de agradecimento.
Será porque permaneceu menos de 100 dias? Ou por fingir administrar um ministério marcado pela ausência de propostas relevantes? Ou porque sua pasta é um caos formado por desentendimentos e polêmicas? Ou pelas bravatas moralistas e reacionárias?
Como nada substantivo vem do Planalto, ensaiamos respostas. Dado o que foi divulgado sobre o novo ministro, podemos dizer que Bolsonaro enxerga ali um espaço reservado para sua seita, a bancada da intolerância. Weintraub defende as tolices advindas de Olavo de Carvalho, como a ideia de que existiria um "marxismo cultural" que se apossou do país. Ou seja, o discurso de Vélez permanece.
É notável que ambos ministros apresentem currículos alheios ao campo educacional. São tidos como "técnicos", mas não têm experiência alguma com a gestão da educação. Ou dar aulas de filosofia e economia traz expertise em Enem, em livros didáticos, em currículos ou em alfabetização? São ignorantes em educação pública.
O atual governo brasileiro não possui propostas para a área. Daí que perde o foco e se atraca em hino, censura ao Enem, negação de golpe e ditadura. A esperança é que não precisamos de novas propostas, pois o parlamento aprovou um Plano Nacional de Educação (PNE). Cumpri-lo já seria uma enorme contribuição. Ampliaríamos vagas em creches e universidades públicas, valorizaríamos professores, teríamos mais jovens frequentando escolas de qualidade.
Weintraub é um homem do mercado financeiro. Defenderá mais verbas para a educação pública? Ou veio para garantir o lucro das empresas de ensino? Precisamos de educadores no MEC. E menos militares ou economistas loteando cargos com olavistas. A educação não pode seguir refém de pessoas despreparadas.