Por Fernando Ferrari Filho, professor titular do PPGE/UFRGS
Desde os anos 1990, todos os inícios de governos têm enfrentado dificuldades para articular base política que garanta suas governabilidades e aprove as agendas econômicas propostas nas campanhas eleitorais. Passados 100 dias, o governo Jair Bolsonaro se encontra na mesma situação, mas com um agravante: a constante preocupação do presidente em querer desconstruir as ações e a ideologia dos governos anteriores, especialmente dos petistas, e a insistência em propor uma agenda econômica essencialmente liberal, que vai de encontro ao modus operandi do capitalismo brasileiro e aos interesses das elites econômicas, acabam recrudescendo as referidas dificuldades.
Se não bastassem tais agravantes, declarações absurdas e incorporadas no discurso oficial do governo e atitudes intempestivas e apatetadas (alusão ao personagem de Walt Disney, cujo parque temático norte-americano o ministro Paulo Guedes diz adorar) de ministros e dos filhos do presidente fazem com que (i) a aprovação popular de Bolsonaro seja a mais baixa para um início de governo, (ii) haja crise institucional entre o Executivo e o Congresso Nacional (a aprovação por parte deste último da proposta que retira poder do governo sobre o Orçamento é um exemplo), (iii) os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais sinalizem "abandonar o barco" bolsonarista, (iv) os eleitores do presidente comecem a se frustrar, principalmente aqueles que serão os mais afetados pela reforma da Previdência, e (v) o grau de confiança do empresariado na recuperação econômica não "decole".
Explorando o último ponto, as expectativas empresariais estão travadas porque, entre outros motivos, a agenda econômica "guedesiana", centrada nas doutrinas da "mão invisível" do Mercado e do Estado mínimo, não contempla política industrial, não propõe reforma tributária – imprescindível para reduzir o custo Brasil e propiciar justiça tributária – e não sinaliza investimentos públicos complementares ao investimento privado.
Pois bem, para que o governo Bolsonaro tenha governabilidade e o país restabeleça os rumos do crescimento econômico, é necessário construir uma maioria parlamentar no Congresso Nacional, visando apoio às reformas estruturais, e apresentar uma agenda econômica na qual Mercado, Estado e Instituições sejam protagonistas. Caso contrário, lhe restará somente orar.