Por Esther Pillar Grossi, professora
Educação domiciliar? O que ela significa de concreto. Ela revela um conhecimento mínimo ou nenhum conhecimento a respeito de como se aprende. Educação domiciliar significa empobrecimento da construção inteligente dos alunos e desprofissionalização dos professores.
A aprendizagem é um fenômeno social – aprende-se com três tipos de grupos: os que sabem mais do que aquele que aprende; os que sabem mais ou menos o mesmo; os que sabem menos do que os aprendentes.
Aprender com os que sabem mais ou menos o mesmo que o aprendente é uma essencialidade na caminhada rumo aos saberes. Isto significa fazer parte de uma turma com colegas no mesmo nível. E mais, uma turma não pequena, pois a contribuição de vários colegas aumenta as chances de trocas enriquecedoras.
Além disso, as mais atualizadas conquistas sobre o aprender mostram que, nos momentos chave do processo rumo aos conhecimentos, se aprende mais com um colega do que com o próprio professor. Um colega sabe melhor entender o jeito de pensar do seu parceiro para fazê-lo aprender.
É de Piaget a seguinte afirmação, alias muito verdadeira: "Há momentos em que um bom professor pode prestar um péssimo serviço aos alunos". São os momentos em que os colegas fazem avançar mais do que um professor.
Por outro lado, educação domiciliar ignora que magistério é profissão. Profissão é uma atividade humana que exige conhecimentos e muito preparo.
Educação domiciliar reflete a pobre e equivocadíssima ideia de que escola é a continuação da família e que professora é uma segunda mãe.
Absolutamente, não! Ser professora é pertencer a uma categoria que professa dois saberes: o daquilo que quer ensinar ( por exemplo, português, matemática, ciências, artes...) e o de como ensinar. E isso é ciência e arte.
Família e escola são duas instituições com caráter e finalidades diferentes. Família é lugar de afeto e de garantia de que há espaço para nós no mundo. Escola é lugar de aprendizagens que, por sua complexidade, não se pode fazer sem professor e sem estrutura ensinante especial.
E essa estrutura ensinante especial goza hoje de um suporte fantasticamente eficiente que são os novos conhecimentos sobre o aprender da Teoria dos Campos Conceituais e do Pós-Construtivismo. Portanto, há caminho seguro e eficaz da escola dar a todos os seus alunos o imenso prazer de aprender.
Porém, o mais nefasto dessa educação domiciliar é a concretização de não aprendizagem para os pobres. Como os milhões de analfabetos adultos vão ensinar seus filhos? Como vão ensinar outros milhões que, mesmo sabendo ler, estudaram pouquíssimo?
É uma proposta sem nenhum fundamento didático, quando existem recursos nas ciências para ensinar a todos.