Por Helena Lauenstein, professora da rede municipal de Porto Alegre
Foram 153 dias de licença após a agressão sofrida por mim em outubro, dentro da escola onde trabalho. Semana passada voltei a trabalhar. Vários sentimentos me tomaram: ansiedade, alegria e também medo. Como seria recebida pelos colegas, alunos e pais? Como me sentiria ao passar pela porta da escola, o local onde se deu a agressão? A escola estaria mais segura agora?
Felizmente fui muito bem recebida pelos professores. Alunos e pais também mostraram-se felizes ao me verem e eu também contente ao revê-los. Recebi flores, café especial e a camiseta que meus colegas fizeram para mim, na semana do trágico acontecimento, com a frase: "professor é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo". Como não ficar feliz e emocionada com tantas demonstrações de carinho e apreço? Como eu poderia cogitar a possibilidade de trocar de escola? Como deixar para trás colegas, alunos e pais tão especiais? Mobilizaram-se e demonstraram toda a sua indignação com o episódio de violência acontecido dentro do ambiente escolar. Lugar de ensino, aprendizagem, em que se cultua a paz, o respeito, o amor, a tolerância, a diversidade.
A violência que nos rodeia, enquanto sociedade, não deveria se inserir dentro das escolas. Mas se insere, porque ela reflete todo o descaso dos governos com as populações das periferias, que sofrem com o sucateamento dos serviços públicos e com a falta de acesso à escola, à saúde, e as políticas sociais que deem conta da enorme e crescente desigualdade social.
A escola não está mais segura? Não. O contrato com a empresa de portaria foi cancelado por falta de pagamentos por parte da Smed (*Confira posição da prefeitura abaixo). O portão eletrônico da escola está estragado e o conserto, que é caro, não tem prazo para acontecer. Medo? Sim. Mas esperança, também. A valorização da escola pública é a melhor solução para combater a violência e a injustiça social. Quando ninguém mais acredita na educação, nós, professores, acreditamos.
Nota da Secretaria Municipal de Educação (Smed):
Sobre artigo O medo de retornar à escola após ter sido agredida pela irmã de um aluno, publicado na edição desta quarta-feira, 3, em Zero Hora, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) esclarece as seguintes informações:
- A LF Zeladoria, que desde outubro do ano passado prestava serviço de portaria nas 56 escolas de ensino fundamental da rede municipal de ensino, encerrou o atendimento no início do ano por decisão própria. A Secretaria Municipal de Educação (Smed) realiza processo licitatório para ampliar o serviço em 2019.
- A Escola Municipal de Ensino Fundamental Afonso Guerreiro Lima, lotação da autora do texto, recebeu em outubro do ano passado aumento de 99,75% nos repasses trimestrais, passando de R$ 59.205,77 para R$ 118.411,53. Mesmo diante do pior cenário das finanças públicas municipais, a Smed conseguiu priorizar dentro de seu orçamento um valor suficiente para que as equipes diretivas exerçam de fato sua liderança na gestão escolar, o que inclui a manutenção de itens como o portão citado no artigo. Para a Smed, a descentralização dos recursos possibilita qualificar o gasto.