Por Helena Saldanha Launstein, professora da Rede Municipal de Porto Alegre agredida pela irmã de um aluno em outubro
Vinte e quatro de outubro de 2018. EMEF Afonso Guerreiro Lima. Um dia de aula. Um fato violento mudou a rotina escolar. A irmã de um aluno veio à escola e agrediu-me covardemente com socos e chutes. Por que essa violência?
Nossas escolas localizam-se em periferias. As famílias têm baixo poder aquisitivo, baixa instrução, vivem de trabalhos braçais. A maioria das crianças não têm suas necessidades básicas atendidas: moradia, alimentação, cuidado familiar e assistência médica.
A rede municipal de Porto Alegre já foi referência como uma rede pública de qualidade, com atividades pedagógicas de inclusão social. Infelizmente, a comunidade escolar tem sido alvo de constantes ataques por parte do governo municipal. Houve uma diminuição de duas horas e meia de aula por semana, o que representam 95 horas a menos por ano. Diminuíram as refeições, veio o corte das oficinas do turno inverso, como escolinhas esportivas, oficinas de música, dança, teatro, robótica.
Com o fim do turno integral, que é uma política pública de inclusão agravou-se o quadro de vulnerabilidade social. A falta de manutenção nas escolas é um atentado à saúde pública: infestação de pombas em ginásios e caixas d'água, esgoto correndo no meio de pracinhas, cozinhas interditadas. Escolas sem espaço até para o recreio. Fechamento de turmas da EJA. O fim das reuniões de planejamento e formações para professores foi outro golpe nos professores, que estão com salários parcelados, e seguem trabalhando com qualidade, sob imensa pressão. E a falta de professores, que é desesperadora! São mais de 700 vagas em aberto em toda a rede!
De onde vem a violência? Das oficinas canceladas, dos alunos com menos aula, das turmas sem professor, da ausência do direito de estudar, que traz prejuízos a toda a comunidade escolar e a conta a ser paga pela sociedade acaba sendo muito cara; e violenta, dentro ou fora da escola.