Por Alfredo Fedrizzi, jornalista e consultor
Há muito, discute-se qual seria a vocação natural de Porto Alegre, que diferencial buscar para a cidade e como poderíamos “vendê-la”, encontrando nela mesma algo que seja relevante. Em Boston, onde me encontro, constatei semelhanças com nossa cidade, apesar das brutais diferenças culturais e financeiras. Não dá para comparar as duas cidades. Mas dá para se inspirar.
Boston é considerada um dos hubs intelectuais do mundo, o epicentro das melhores universidades do planeta, onde estudam 300 mil estudantes. A cidade é conhecida pela excelência em educação e ciência. Os parâmetros são altíssimos. Em Boston, estão Harvard e MIT, duas das mais conceituadas universidades do mundo, e hospitais como o Dana Farber, talvez o maior centro de pesquisas de câncer do planeta, entre centenas de centros de ensino e pesquisa. Só Harvard tem um orçamento maior do que o do RS: R$ 120 bilhões. Recebe os mais promissores talentos do mundo e forma alguns dos maiores líderes empresariais. Oito presidentes dos EUA se formaram em Harvard, além de 150 ganhadores do prêmio Nobel.
No caso de POA, nossa vocação já está presente: temos algumas das melhores universidades do país, como UFRGS, PUC, Unisinos, além de ESPM, UniRitter, Imed etc. Nas ciências, a saúde se destaca. Temos hospitais e clínicas, como Mãe de Deus, Moinhos de Vento, Clínicas, Santa Casa, PUC, entre tantos. Já exportamos cientistas e médicos, referências em suas áreas. Alguns ainda ficaram. “Já perdemos muitas oportunidades de conversão de conhecimento, onde somos ricos, em desenvolvimento, que é o que a gente precisa para poder avançar nosso ecossistema”, diz Luiz Carlos Pinto, diretor da Faculdade de Engenharia da UFRGS.
Microeletrônica, energia solar, exploração de petróleo, inteligência artificial e economia criativa são áreas onde podemos avançar ainda mais. Então, se nosso caminho já vem sendo traçado naturalmente e os investimentos nessas áreas crescem, precisamos avançar em doações empresariais. David Coimbra, que mora em Boston há cinco anos, me contou que um terço do orçamento de Harvard é resultado de doações de empresários ex-alunos. Até nisso já temos bons exemplos, de famílias como os Ling, Gerdau e, agora, Grendene, doando um hospital. Cabe a nós assumirmos definitivamente essa vocação e estimularmos seu crescimento através de todo tipo de incentivo, pensando grande. Atrair talentos de todos os lugares, desenvolver pessoas, estimular a pesquisa e a inovação, que é o que existe de mais nobre, e nos levará a um futuro mais promissor.