A vencedora da prova feminina, Desiree Linden (Foto: Scott Eisen, AFP)
Conforme foram divulgados os índices da Maratona de Boston de 2018 — realizada na segunda-feira passada, dia 16 de abril — um dado chamou a atenção dos especialistas em corridas. Por ter sido realizada sob as condições climáticas mais duras dos últimos 30 anos, a três graus de temperatura e chuva lateral o tempo inteiro, o número de desistências naturalmente aumentou.
Só que enquanto a taxa de desistências entre homens aumentou 80% em comparação à prova de 2017, a de mulheres aumentou apenas 12%. Ou seja, em média, seis vezes mais homens do que mulheres desistiram ao longo da corrida.
O fenômeno despertou a curiosidade do The New York Times. Neste final de semana, o jornal trouxe um artigo a respeito assinado por Lindsay Crouse, maratonista com 10 provas de 42 quilômetros no currículo. O texto é intitulado Por que homens desistem e mulheres não.
A explicação mais natural para a resistência feminina na prova de 2018, segundo Lindsay, seria o percentual maior de gordura do corpo das mulheres, o que faz diferença no frio. Mas chama a atenção que em provas quentes, como a de 2012, realizada acima de 30 graus, as mulheres também resistiram mais do que os homens. Em média, a taxa de desistência delas é de 3,8%, enquanto dos homens é de 5%. Conforme o clima se torna hostil, a diferença entre mulheres e homens se amplia.
O artigo traz a opinião de Alex Hutchinson, autor do livro Endure - Mind, Body, and the Curiously Elastic Limits of Human Performance (Em tradução livre: Aguentar - Mente, Corpo e a Curiosa Elasticidade dos Limites da Performance Humana).
Segundo Hutchinson, quando você chega ao ponto de que não consegue continuar, isso parece uma sensação física, como um limite imutável, porém os limites físicos são mediados pelo cérebro. Em último nível, desistir é sempre uma decisão.
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As mulheres são mais resistentes porque simplesmente não tomam essa decisão com facilidade. Lindsay cita o exemplo dos partos naturais. Embora sejam muitas vezes fisicamente extenuantes, desistir não é uma opção.
De acordo com Hutchinson, as mulheres também costumam ser melhores em dosar as suas forças e reajustar seus objetivos conforme as circunstâncias. Algo especialmente útil em corridas sob condições extremas, em que acelerar o ritmo além da dose pode desregular a temperatura do corpo.
— Homens tendem a começar a corrida de forma mais agressiva e assumir riscos mais altos para alcançar adversários, então eles também são mais propensos a "estourar" na segunda metade da corrida. Se você chegar aproximadamente ao quilômetro 30 com uma chuva terrível pesando três quilos a mais de roupas molhadas, aumenta o risco de você desistir — opina o escritor.
A última explicação leva em conta o histórico das mulheres maratonistas. Em geral, há menos aventureiros e amadores na prova feminina do que na masculina, sobretudo em provas muito competitivas como a Maratona de Boston.
— Corredoras mulheres que chegaram até Boston já superam mais obstáculos sociais que os homens. Elas podem simplesmente ser mais duronas, e esse foi um ano em que ser durona contou — escreve Lindsay.
A prova feminina desse ano foi vencida pela norte-americana Desiree Linden, de 34 anos, que admitiu ter pensado em desistir em alguns momentos em razão de câimbras e pouca ingestão de líquido. Desiree classificou a prova de 2018 em condições climáticas adversas como "coisa de entrar para os livros de História". Ela terminou a prova em duas horas, 39 minutos e 54 segundos.
A norte-americana já havia ficado entre as 10 melhores da prova quatro vezes, e sua obsessão em vencer a corrida era tamanha que seu cachorro de estimação, um golden retriever, se chama Boston.