Por Michel Gralha, advogado
A frágil democracia brasileira sempre foi carregada de muito intervencionismo. Não são poucas as vezes que temos nossas vidas regradas por “normas” e procedimentos que nos influenciam inconscientemente e nos fazem pensar em sentido oposto ao lógico, transformando-nos em massa de manobra. São pequenos conceitos e atitudes repetidas que influenciam as nossas vidas. Neste sentido, não querendo entrar em debate sobre futebol, pois nunca foi o motivo das minhas colunas, entendo valioso fazer uma análise da proposta da CBF de interferir ainda mais na vida dos clubes de futebol. Parece maluco ou até ilógico vincular isto ao nosso cotidiano, mas não é!
Note que a CBF tinha a pretensão de limitar o número de técnicos que um time pode contratar no Campeonato Brasileiro, dentre outras medidas. Ou seja, um agente externo, com interesses corporativos, regrando relações privadas. E o que é pior, apoiado por inúmeros formadores de opinião. Sem dúvida, temos um assunto, aparentemente irrelevante, que demonstra o quanto, como sociedade, somos sedentos por regulações e não valorizamos nossas liberdades.
Concordar com esta medida é permitir que terceiros venham dizer o que é melhor para nós, sem que este terceiro tenha o mínimo conhecimento de cada ente, individualmente. Fazendo um paralelo, poderíamos concordar, também, que o governo limitasse o número de demissões que uma empresa pudesse fazer nos seus cargos de gestão ou, ainda, intervisse nos nossos lares determinando o número de vezes que podemos contratar um funcionário para a mesma função, por exemplo.
Quando apoiamos uma ideia, não podemos fazer isto de forma isolada. Aceitando o fim da liberdade dos outros, estamos contribuindo para a nossa escravidão mental e física. A preservação dos direitos individuais é fundamental para a mudança de cultura que tanto queremos para o Brasil. Pessoas mais livres geram uma economia mais livre e um país mais próspero. Experimentemos deixar os detalhes nos atropelar e nos tornaremos vítimas de uma sociedade ainda mais carente e dependente do assistencialismo, de quem quer que seja.